No silêncio das celas do PTran (Presídio de Trânsito de Campo Grande), ecos de esperança ganharam voz através da poesia. Sob coordenação da Diretoria de Assistência Penitenciária da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), foi realizado na unidade penal o 1º Concurso de Poesia – “Mãe: Um verso de amor”, uma iniciativa que foi além da escrita: tocou corações, resgatou memórias e abriu janelas de transformação.
Idealizado e desenvolvido pela policial penal Liliane Amarilha, o projeto surgiu com a proposta de oferecer aos cerca de 600 reeducandos da unidade uma ferramenta poderosa de expressão. Em meio à rotina rígida do ambiente prisional, a poesia se revelou uma aliada no fortalecimento emocional e na promoção da saúde mental.
“Mais do que revelar talentos, a poesia foi uma forma de aliviar dores, resgatar memórias e, acima de tudo, reconstruir identidades”, relata emocionada a policial penal Liliane, que atua como assistente social. Segundo ela, cada verso escrito representou uma liberdade conquistada, uma ponte entre o presente e a esperança de um futuro diferente. “Participar desse processo foi uma experiência profundamente humana e transformadora. Reforçou meu compromisso com a educação e com a ressocialização”, conclui.
Na prática, o concurso não foi apenas uma competição, mas uma oportunidade terapêutica. Diversos estudos comprovam os benefícios da escrita poética na saúde mental. Pesquisas internacionais destacam que a poesia reduz sintomas de estresse, depressão e até dores físicas. No ambiente prisional, onde a solidão e a ansiedade são constantes, essa prática se mostra ainda mais essencial.
“Estou profundamente satisfeito e orgulhoso pelo projeto ‘Poesia que Liberta’. Através da poesia, nossos reeducandos encontraram não apenas uma forma de expressão, mas também um instrumento de cura, reflexão e esperança. Este projeto reafirma nosso compromisso com a ressocialização, mostrando que, com apoio, dignidade e oportunidade, é possível transformar vidas e reconstruir caminhos”, pontua o diretor do Ptran, Maycon Roslen de Melo.
Com apoio da Faculdade Unigran, os poemas foram avaliados e os três melhores receberam premiações simbólicas, que carregam grande valor emocional para quem, muitas vezes, sente-se esquecido pela sociedade. Além disso, todos os participantes receberam certificados e tiveram suas produções reunidas em uma coletânea encadernada, eternizando suas palavras (foto principal). A ação também teve o apoio da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, por meio da defensora Jaqueline Linhares Granemann, que doou o prêmio para ser entregue ao primeiro colocado: a obra literária “A Pequena Prisão”, do autor Igor Mendes.
Estímulo à educação e à cultura
O tema escolhido, “Mãe: Um verso de amor”, trouxe à tona sentimentos profundos, muitas vezes reprimidos. Para os organizadores, foi surpreendente perceber como os reeducandos se entregaram ao processo criativo, utilizando a escrita como um espaço seguro para falar de amor, saudade e esperança.
Para a diretora de Assistência Penitenciária da Agepen, Maria de Lourdes Delgado Alves, com essa iniciativa o sistema prisional reafirma seu compromisso com ações que promovem a dignidade e a transformação. “Quando damos voz às emoções, abrimos espaço para o recomeço. A educação e a cultura são caminhos para a verdadeira ressocialização”, destaca a diretora. Na opinião da dirigente, o impacto desse projeto ultrapassou as grades. Mostrou que, mesmo em meio às dificuldades, é possível semear esperança.
A solenidade de premiação dos três primeiros colocados foi realizada nessa terça-feira (3.6) e contou com a participação da chefe da Divisão de Educação da Agepen, Rita de Cassia Argolo Fonseca, e da chefe da Divisão de Promoção Social, Marinês Savoia.