Campo Grande (MS) – A Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) realizou na manhã desta quarta-feira (28), no Presídio de Trânsito de Campo Grande (Ptran), o lançamento do Projeto Construindo a Liberdade, realizado em parceria com o Conselho da Comunidade, que tem por objetivo criar um núcleo interno para gerenciar atividades artesanais na unidade prisional.
Na oportunidade, custodiados cadastrados também receberam da Secretaria de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação (Sectei) e da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) a carteira nacional do artesão, emitida por meio do Programa do Artesanato Brasileiro. Foram entregues carteiras de artesão confeccionadas para internos do Ptran (28), Instituto Penal de Campo Grande (31) e Centro de Triagem (6).
Durante a solenidade – que marcou também as posses dos diretores do Ptran, Claudiomar Suszek , e do diretor do Centro de Triagem, Alírio Francisco do Carmo – o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, parabenizou a todos pela iniciativas concretizadas. “Nossos servidores são ímpares no desenvolvimento desses projetos no presídio. Agradecemos a dedicação da promotora Jískia e temos agora a presença do [secretário] Athayde, essa parceria nos honra muito. Levamos o desafio das carteiras ao secretário e as coisas muito rapidamente foram acontecendo. Parabenizo os internos pelo trabalho, agora podem ter uma nova profissão para no futuro possuírem novos valores, como o trabalho, a família, Deus”, declarou em discurso.
O secretário de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação, Athayde Nery, agradeceu a presença das autoridades, internos e funcionários do sistema penitenciário no evento e cumprimentou os dois novos diretores empossados. “É uma honra estar aqui. O governador Reinaldo está muito entusiasmado com esse projeto do artesanato sob o ponto de vista da ressocialização. Os meninos que receberam a carteira terão nova perspectiva ao sair do presídio, após cumprir sua pena. Este ano já foram entregues cerca de 90 carteiras do artesão no total, nos presídios de Campo Grande. Além dos três presídios contemplados aqui hoje, já foram entregues a detentas do Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi”, disse.
Athayde lembrou também que a presidente Dilma sancionou na semana passada a lei que regulamenta a profissão de artesão. “No Festival América do Sul oferecemos um espaço para comercialização das peças produzidas nos presídios e também colocamos à disposição a Casa do Artesão. Conversei com o diretor da Agepen, Ailton Stropa, sobre a possibilidade de ampliarmos as manifestações artísticas nos presídios, como teatro, coral, dança. Fico feliz de construirmos juntos uma cultura de integração nesse processo de recuperação”.
Presente na cerimônia, a promotora da 50ª Promotoria de Justiça, Jískia Sandri Trentin, afirmou estar feliz por poder participar do momento da união de vários órgãos na realização deste projeto. “O Ministério Público não faz nada sozinho. Parabenizamos a Agepen [ por compreender a necessidade de melhorar sempre os trabalhos. Agradecemos a parceria com o secretário de Cultura, Athayde Nery e reconhecemos a importância de a Sectei apoiar as atividades da Agepen. A carteira do artesão vai ajudar muito nessa missão de ressocialização dos internos por eles terem uma atividade”.
Representando os internos do Ptran, os custodiados Durval da Costa Filho e Maycon William Camargo da Conceição, receberam a carteira do artesão das mãos das autoridades. Maycon tem 26 anos, está no presídio há seis meses e há dois meses realiza trabalhos em crochê. “Comecei por conta própria. Outros presos que já faziam artesanato me ensinaram a fazer tapetes, bonés, chapéus, bolsas. Eu vi os outros fazendo, achei interessante e pedi para eles me ensinarem. Depois comecei a fazer as aulas no presídio. Eu não recebo visitas, então as visitas de outros custodiados encomendavam tapetes para mim, eles me davam o material e eu recebia em troca mais material ou pagamento em dinheiro. Com o dinheiro eu comprava mais linha na cantina do presídio. Decidi fazer a atividade para passar o tempo na cadeia. Quando sair daqui vou continuar fazendo, cada vez tentando melhorar. Com a carteira do artesão, vou ter uma profissão, vou poder vender meus produtos e participar de feiras”.
Maycon e Durval fazem parte do Projeto Construindo a Liberdade. O projeto é realizado pela Agepen por meio de parceria com a 50ª Promotoria de Justiça de Mato Grosso do Sul e o Conselho da Comunidade de Campo Grande. Foi elaborado pela psicóloga Elaine Cristina Souza Alencar Cecci e pela assistente social Isa Bambil, ambas lotadas no Presídio de Trânsito. O projeto, além de criar um núcleo interno para gerenciar as atividades artesanais da unidade prisional, oferece também aos custodiados cursos profissionalizantes na área.
A psicóloga explica que uma vez por mês é ministrado ou o curso de barbante, com a instrutora Junara Bardella, ou o curso de MDF, com a assistente social Isa Bambil. Os custodiados participantes possuem uma ficha individual. Eles trabalham habilidades manuais com material reciclável, como garrafas Pet e madeira, para produzir peças decorativas. “Os trabalhos são feitos nas celas, mas eles utilizam a sala de artesanato para finalização com material que não pode ir para a cela. A cada três dias trabalhados é um dia a menos no cumprimento da pena. As atividades são feitas de segunda a sexta-feira, cada galeria tem um coordenador que recolhe o material produzido e anota na ficha para comprovar que a semana foi produtiva, e assim é feita a avaliação”, detalha Elaine.
O custo total do projeto está estimado em cerca de R$ 3.9 mil, com recursos disponibilizados pelo Conselho da Comunidade para a compra de materiais. “Quando o investimento em material é do preso, 100% do valor da peça é dele. Quando tem fornecimento da unidade, o interno fica com 30% do valor da peça”, explica Elaine. “A maior parte das peças é comercializada dentro do presídio, entre os familiares e visitantes, tudo é vendido muito rapidamente. Mas também há a feira anual ‘Artesão Livre’, no saguão do Fórum, que já teve quatro edições; temos a parceria com a prefeitura para comercialização dos trabalhos na Cidade do Natal este ano e a Casa do Artesão. A aceitação nas feiras é muito boa”, comenta a psicóloga.
Ao final da solenidade, os presentes puderam apreciar algumas peças expostas, que foram produzidas por internos que fazem parte do projeto.
Também participaram do evento o superintendente de Políticas Penitenciárias da Sejusp, Rafael Garcia Ribeiro, o juiz auxiliar da Corregedoria do Tribunal de Justiça, Juliano Valentin, o delegado de Polícia Civil, Roberto Gurgel e os diretores de área da Agepen Gilson Martins (assistência e Perícia), Reginaldo Régis (Operações) e Arnold Rosenacker (Administração e Finanças), entre outros.
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Com informações de Karina Lima, da FCMS.