Campo Grande (MS) – Nas aulas de jazz oferecidas no Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi” (EPFIIZ), na Capital, a detenta Alexsandra Meira, 33 anos, aprendeu a refletir sobre suas escolhas e as perdas decorrentes da vida no crime. Ela é uma das concluintes do curso de dança oferecido no presídio por meio de parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e a Fundação Municipal de Cultura (Fundac).
Junto com outras 11 reeducandas, Alexsandra recebeu nesta quarta-feira (9) o certificado de participação no curso realizado entre maio e novembro deste ano. Presa há pouco mais de dois anos no EPFIIZ, por tráfico de entorpecentes, a custodiada garante que a disciplina exigida na atividade contribuiu não só para sua autoestima, como também a enxergar novas perspectivas. “A dança me trouxe paz, tranquilidade, me fez refletir que a vida pode ser melhor do que eu já vivi, e que eu posso entrar para a sociedade como uma pessoa melhor, sair da vida no crime”, garantiu, revelando que pretende continuar com as aulas e também inserir a filha de quatro anos no mundo da dança. “Se eu com 33 aprendi bastante, imagina ela”, comentou.
De acordo com a diretora do presídio, Mari Jane Boleti Carrilho, a iniciativa tem como objetivo estimular a melhoria na autoestima das custodiadas e, até mesmo, capacitá-las para atuarem profissionalmente como dançarinas, representando um meio de sustento quando conquistarem a liberdade. Conforme a dirigente, o curso iniciou com a participação de 33 custodiadas, mas devido à conquista de progressão de regimes por muitas delas, apenas as 12 participaram da cerimônia de certificação do curso. Esse foi o terceiro ano em que a ação é desenvolvida na unidade prisional.
Mas o sucesso da iniciativa não é só mérito dos passos e coreografias aprendidos, é também, em grande parte, resultado do empenho da professora Suzana Leite, que há 39 anos dedica a vida a ensinar essa arte, dez dos quais também junto à população carcerária feminina. “A Suzana não ensina só a dançar, ela trabalha para a transformação de vidas”, ressaltou a diretora do EPFIIZ; opinião que é compartilhada também pelas alunas. “Antes das aulas a gente orava, conversava, ela aconselhava bastante a gente, ensinava a ter controle”, conta a interna Juliana Jaskulski, 24 anos, que está há um ano e quatro meses no EPFIIZ. “Fiquei mais calma depois que comecei a participar”, afirma.
Segundo a professora, é realmente visível a mudança comportamental de quem se entrega a aprender a dançar. Algumas mulheres, destacou Suzana, mesmo depois que conquistam a liberdade continuam participando das aulas. “Eu ofereço bolsas às que quiserem continuar participando, atualmente estamos com duas ex-internas daqui”, comentou.
De acordo com o diretor presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, que participou da solenidade de certificação, assim como o projeto que proporcionou aulas de jazz às custodiadas, a agência penitenciária e a Fundac estão verificando a capacitação para formação de um coral pelas detentas do EPFIIZ, com possibilidade de apresentações até mesmo fora do presídio, a exemplo do que já acontece com custodiadas de Corumbá, onde existe o grupo de canto “Vox in Libertae”.
Para o presidente da Fundação Municipal de Cultura, Américo Yule, que também esteve presente no evento, garantir o acesso das custodiadas a manifestações artísticas e culturais é um meio de reinserção social. “A arte transforma vidas, traz disciplina, exige esforço de quem participa para que faça uma boa apresentação, e buscamos proporcionar essa transformação por meio desse projeto, assim como fazemos junto a comunidades carentes”, declarou.
Também participaram da cerimônia o diretor de Assistência Penitenciária da Agepen, Gilson Martins, e a diretora de Cultura da Fundac, Clarice Benites. O evento contou, ainda, com apresentação de dança do ventre da dançarina Ellen Daniele, do grupo Maktub.
Fotos: agentes Solange Hoff, do EPFIIZ, e Keila Oliveira, da Assessoria de Comunicação.