Campo Grande (MS) – A Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), por meio da Divisão de Saúde, vai inovar ainda mais a assistência médica oferecida aos internos da capital. Um equipamento de alta tecnologia denominado GeneXpert, que realiza o teste rápido de tuberculose em apenas duas horas, será disponibilizado no Módulo de Saúde do Complexo Penitenciário.
O equipamento custa cerca de R$ 70 mil e foi doado pelo Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria Estadual de Saúde (SES). O objetivo é agilizar o diagnóstico e o tratamento dos pacientes com a doença, além de prevenir novos casos.
Com alta sensibilidade e especificidade, os testes realizados terão poucas chances de um laudo falso negativo e ainda indicarão se o paciente tem resistência aos medicamentos utilizados no tratamento. O equipamento vai atender os reeducandos de todos os estabelecimentos penais da capital de regimes fechado e semiaberto.
A doação foi intermediada pela farmacêutica–bioquímica e doutora em Ciências da Saúde com especialidade em tuberculose, Eunice Atsuko Totumi Cunha, que atua no Laboratório Central de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul (LACEN/MS). Segundo ela, a proposta da iniciativa é realizar o diagnóstico precoce, consequentemente, diminuir a contaminação entre os custodiados, o que reduz o número de novos casos da doença na população carcerária do estado.
“O foco é a rapidez no diagnóstico e consequente agilidade para o tratamento, já que o GeneXpert fornece o diagnóstico em até duas horas e ainda informa se o paciente é resistente à droga, uma das mais importante no tratamento que é a rifampicina”, informa a farmacêutica–bioquímica.
O Ministério da Saúde, por meio do LACEN/MS, será responsável pela distribuição dos kits para os exames realizados no equipamento. Dois servidores que atuam no Módulo de Saúde da Agepen, uma enfermeira padrão e um farmacêutico-bioquímico, já concluíram o treinamento em Curitiba/PR e estão aptos para a execução dos exames.
Normalmente, o diagnóstico de tuberculose é realizado pelo exame da baciloscopia do escarro. O processo todo, desde a chegada ao laboratório até a emissão do resultado, demora entre 24 e 48 horas. Com o GeneXpert, é utilizada a mesma amostra de escarro, mas o resultado sai em muito menos tempo e com mais precisão.
Conforme a chefe da Divisão de Saúde da Agepen, Maria de Lourdes Delgado Alves, essa ação vai possibilitar maior prevenção da tuberculose na área da saúde prisional do estado. “A tendência é realizarmos o rastreamento da doença e evitar a proliferação”, afirma. Ela ressalta que já estão sendo articulados com as secretarias estadual e municipal de Saúde os recursos humanos necessários para a operacionalização do aparelho para o início das atividades.
A tuberculose apresenta vários sintomas, entre os principais estão tosse por mais de três semanas seguidas, febre (mais comum ao entardecer), falta de apetite, perda de peso, cansaço e suores noturnos. A doença tem cura e para obter sucesso no tratamento é necessário tomar os medicamentos corretamente durante seis meses, sem interrupção.
Atualmente, os presos que apresentam sintomas passam por triagem médica no próprio presídio, onde também é feita a coleta do escarro para os exames. Casos que são necessários exames de raios X são encaminhados, por meio de escolta, para o posto de saúde.
Nos casos detectados, os internos infectados recebem atendimento na própria unidade prisional, sendo realizado rastreio em todos os companheiros de cela, bem como outros detentos de maior convívio, além de orientação a familiares para procurarem atendimento médico para verificação. Nos primeiros 15 dias de tratamento o preso infectado usa máscara, e após isso é feito um novo exame para verificar se o risco de transmissão permanece.
Referência
Recentemente, teve início um projeto pioneiro que visa reduzir a incidência da tuberculose na população carcerária de Mato Grosso do Sul. Os trabalhos já acontecem no Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho (EPJFC) – de Segurança Máxima da capital – e depois serão desenvolvidos também na Penitenciária Estadual de Dourados (PED), as duas maiores unidades prisionais do estado.
Os trabalhos consistem na realização de entrevista, de coleta de escarro para teste rápido molecular (geneXpert), baciloscopia, cultura da bactéria e testes de sensibilidades às drogas, além de raios X digitais. Para isso, os profissionais responsáveis contam com o apoio de uma unidade móvel, em forma de contêiner, totalmente equipada, que fica estacionada dentro do presídio. Todos os agentes penitenciários das unidades prisionais também passam pela triagem.
A ação está sendo realizada pelo Governo do Estado, através da Agepen e a SES, em parceria com as Universidades Federais de Mato Grosso do Sul (UFMS), da Grande Dourados (UFGD) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e LACEN/MS, além da colaboração internacional da Universidade de Stanford e do Instituto Nacional de Saúde Pública dos Estados Unidos.
O projeto terá duração de dois anos e meio, com meta de cinco triagens em cada penitenciária, desenvolvidas por três meses, alternadamente. Desta forma, se pretende identificar precocemente todos os casos de tuberculose de ambas as unidades penais, iniciar o tratamento e diminuir a transmissão.
Segundo a Dra. Eunice Atsuko, será desenvolvido um trabalho integrado entre ambas iniciativas. “Já foi autorizado pelo Dr. Júlio Croda a aquisição de alguns materiais necessários para a implantação do serviço e vamos ceder o GeneXpert para a utilização no projeto, então trabalharemos em conjunto para fornecer um diagnóstico rápido e preciso aos custodiados”, destacou.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, as várias ações voltadas à prevenção, detecção e tratamento da tuberculose tanto dos custodiados quanto dos agentes penitenciários são possíveis graças às parcerias firmadas por meio do empenho de toda a equipe de servidores. “Todo o esforço é em prol do sistema prisional, bem como de toda a população”, destaca o dirigente.
As ações são coordenadas pela Diretoria de Assistência Penitenciária (DAP) da Agepen, por meio da Divisão de Saúde da instituição.
Texto: Tatyane Santinoni.