Reeducandos em cumprimento de pena nos regimes semiaberto e aberto estão atuando nas obras de revitalização e transformação da Cidade do Natal de Campo Grande em um complexo multiuso gastronômico e cultural. Enquanto trabalham, eles também encontram a oportunidade de construírem uma nova história e não reincidirem no mundo do crime.
A iniciativa integra convênio para contratação de mão de obra prisional entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e a empresa 1A Serviços de Obras Civis e Terceirização de Pessoal, responsável pela execução dos serviços.
No total, 20 internos trabalham no local e estão sendo capacitados para atuarem também no sistema construtivo Light Steel Frame, uma moderna técnica da área, à base de aço galvanizado, capaz de substituir as tradicionais construções de concreto, blocos e tijolos.
O especialista nessa nova tecnologia, Giovane Roriz, reforça que os detentos, além da ocupação profissional, estão conquistando um diferencial no mercado de trabalho, já que são poucos os profissionais da área que dominam as técnicas deste modelo sustentável de construção civil. “Eles serão certificados e poderão atuar nesta área que está em plena expansão e que representa o futuro”, pontua.
Segundo o diretor da 1A, Elvis Rangel da Silva, a produtividade da mão de obra e a aposta da empresa no social está garantindo que o número de internos ocupados seja quatro vezes mais do que é estabelecido na legislação municipal de Campo Grande, que assegura reserva de, no mínimo, 5% das vagas de trabalho para sentenciados em regime semiaberto ou aberto e egressos do sistema prisional na contratação de empresas para obras ou serviços públicos municipais.
“Temos, inclusive, buscado contratar os que estão concluindo suas penas para continuarem trabalhando com a gente, e nossa meta é ampliar em mais 25 vagas de trabalho para reeducandos”, informa o diretor, ressaltando que também estão sendo ocupados cinco custodiados do sistema prisional na reforma no Estádio Morenão.
Elvis reforça que existe uma escassez de mão de obra na construção civil, sendo um importante mercado para quem quer realmente conseguir um emprego lícito e se reintegrar à sociedade. “Com essa parceria com a Agepen, podemos contribuir com este aspecto de ressocialização, o que acaba sendo muito bom para todos. Posso dizer que este empenho do sistema penitenciário de Mato Grosso do Sul em ocupar a mão de obra prisional, abrir frentes de trabalho, é um exemplo para todo o Brasil”, elogia.
Os números atestam a afirmação do empresário. Através da Agepen e seus conveniados, o estado registra 36% da massa carcerária trabalhando, índice que representa quase o dobro da média nacional, que é de 19,5%.
Atualmente, são 208 parceiras firmadas por meio da Divisão do Trabalho da agência penitenciária, com empresas e instituições públicas, com o objetivo de oferecer ocupação produtiva aos detentos e chance real de mudança de vida.
Oportunidade que vem sendo abraçada pelo reeducando Eder Sebastião Vieira da Silva, 44 anos, que encontrou no canteiro de obras da Cidade do Natal acolhimento e a esperança de um futuro melhor. “Com o salário que recebo, estou ajudando a sustentar minha família, e também estou remindo minha pena. Agora, fico sonhando que, quando esta obra estiver concluída, eu possa trazer minha filha de oito anos aqui e mostrar para ela o que eu ajudei a fazer com o suor do meu trabalho”, comenta emocionado.
A emoção é compartilhada pelo encarregado da obra, Romero Geraldo ao participar na transformação dessas vidas. “São nossos colaboradores, que estamos convivendo no dia a dia, tratados com respeito, e eles têm demonstrado um trabalho de excelência. Estamos de portas abertas para que, os que realmente quiserem, continuarem trabalhando com a gente depois que cumprirem suas penas”, afirma.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, o exemplo da parceria com a 1A se multiplica em várias histórias possibilitadas pela ocupação produtiva e capacitação profissional. “Para nós, o trabalho é visto como uma das formas mais eficientes para construção da cidadania e de uma nova identidade à pessoa presa. E não medimos esforços para ampliarmos o número de parcerias, o que reflete em benefícios a toda sociedade, já que reduz o índice de reincidência criminal”, finaliza o dirigente.
Serviço
Empresas e instituições interessadas em firmar convênio de ocupação da mão de obra carcerária com a Agepen podem entrar em contato com a Divisão do Trabalho pelo telefone (67) 3901-1046 ou e-mail: trabalho@agepen.ms.gov.br.
No site da Agepen tem uma cartilha explicando o passo a passo de como funcionam os convênios e todos os benefícios e responsabilidades dos parceiros contratantes.
Keila Oliveira e Tatyane Santinoni.