Campo Grande (MS) – Internas do Estabelecimento Pena Feminino Irmã Irma Zorzi (EPFIIZ) irão receber a carteira nacional do artesão. O cadastramento das custodiadas para recebimento do documento foi realizado na manhã desta segunda-feira (29) pela Gerência de Desenvolvimento de Atividades Artesanais da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, após uma solicitação conjunta do Ministério Público Estadual e da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen).
Para a diretora do EPFIIZ, Mari Jane Boleti Carrilho, a emissão da carteira nacional dos artesãos para as detentas significa uma valorização do trabalho que elas realizam e uma ação para a cidadania. “A carteira abre portas para qualquer feira. Aqui nós realizamos a capacitação que gera renda, com perspectiva para que elas enfrentem novamente a vida.
Mari Jane explica que as aulas são realizadas no Setor de Trabalho de segunda a sexta-feira, das 8 às 16 horas, e as peças confeccionadas são comercializadas entre as próprias internas, com suas famílias e os funcionários do presídio. “As peças são expostas para os visitantes também, e periodicamente fazemos um ‘Ponto Mix’ nos dias de visitas”. Além disso, há duas oportunidades de comercialização ao público externo, na Feira de Natal e de Dia das Mães realizada no Fórum de Campo Grande. Em dezembro, pela primeira vez, os trabalhos serão expostos na Cidade do Natal, devido a convênio firmado pela Agepen com a Prefeitura de Campo Grande.
Cosma Lucia de Oliveira é uma das 16 internas que realizaram o cadastro e vão receber a carteira nacional do artesão. Ela está no estabelecimento penal feminino há cinco meses e desde então participa das aulas no Setor de Trabalho. “Eu sou cozinheira, mas pretendo desenvolver o artesanato como atividade secundária. Aqui no presídio decidi fazer a oficina para passar o tempo e tirar a ansiedade. Estava doida por essa carteirinha. Gosto de fazer roupas. Sem a carteira a gente não consegue muita coisa. Ainda mais agora que tem as feiras”. Cosma é casada, em três filhos, e faz em média 30 peças por mês.
Raiany Farias dos Santos está no ‘Irma Zorzi” há oito meses, mas aprendeu o crochê no presídio de Jateí, onde esteve há um ano e dois meses. É casada, tem dois filhos e a renda mensal da família é de um salário mínimo. “Com o crochê a renda da minha família vai aumentar. Faço tapetes em barbante, produzo cerca de oito peças por mês. Eu tive vontade de aprender e agora pretendo trabalhar com crochê. Com a carteirinha a gente tem mais oportunidades de trabalho, de conseguir uma banca na feira, por exemplo.
A artesã Arlete Delevatti Ferreira ministra cursos há dez anos e desde 8 de junho oferece curso de roupas em crochê, pela Fundação Social do Trabalho de Campo Grande (Funsat), para as internas do presídio. “É a primeira vez que dou curso aqui. Não achei diferença entre dar aulas para as internas e para o público externo. Elas são atenciosas, dedicadas, aprendem fácil. Acho muito importante a emissão da carteirinha pois quando elas saírem [do presídio] já saem com uma habilidade para trabalhar. Podem fazer e vender as peças, é muito bom. Costumo dizer para elas que o artesanato não dá para comprar uma geladeira, mas dá para colocar muita coisa dentro”, finaliza. O curso da Arlete vai até o dia 3 de julho.
Após o cadastro, a carteira fica pronta e será entregue no prazo de uma semana. Emitida pela Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE), por meio do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), a Carteira Nacional do Artesão é uma identificação nacional para artesãos e trabalhadores manuais de todo o Brasil. O documento tem abrangência nacional e oferece diversos benefícios, como isenção de imposto ao participar de feiras ou vendas para outros Estados, descontos para compras em alguns estabelecimentos comerciais, possibilidade de comercialização em determinados espaços, como a Casa do Artesão, que só aceitam artesãos com a carteira em dia e possibilidade de tirar nota fiscal na Agência Fazendária.
A carteira é gratuita e é emitida após o registro do artesão no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab). Para confirmação do registro, o artesão passa por uma prova de habilidades técnicas, cuja aprovação é da Gerência de Desenvolvimento de Atividades Artesanais da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.
Serviço:
O Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi fica na rua Uruguaiana, 563, bairro Coronel Antonino. Telefone: (67) 3901-1308.
Gerência de Desenvolvimento de Atividades Artesanais da FCMS: (67) 3316-9156.
Texto: Karina Lima, com adaptações.
Fotos: Edemir Rodrigues