Campo Grande (MS) – Com cinco anos de existência, a Feira Artesão Livre reúne peças exclusivas confeccionadas pelas mãos de homens e mulheres privados de liberdade em Mato Grosso do Sul. A cada edição, criatividade e encanto tomam conta da exposição; este ano, cerca de dois mil artesanatos estão sendo comercializados na 11ª edição do evento – Especial de Natal. Os preços variam entre R$ 5 e R$ 800 reais.
A abertura foi realizada, nesta terça-feira (3.12), no átrio do Fórum Central de Campo Grande e a exposição prossegue até quinta-feira (5.12), das 11h às 18h. A iniciativa acontece por meio de uma parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Poder Judiciário, Ministério Público e Conselho da Comunidade de Campo Grande.
A iniciativa tem por objetivo aproximar a sociedade de algumas atividades laborais desenvolvidas nos presídios do estado, bem como realizar a sua comercialização, valorizando o esforço da pessoa encarcerada em sua recuperação para o retorno ao convívio social. O projeto também visa incentivar os reeducandos a aprimorar suas habilidades manuais, além do vislumbre de uma profissão digna e geradora de renda. Toda a arrecadação durante a exposição é revertida ao próprio custodiado e à sua família.
“Esse evento é a ponta de um iceberg do grande esforço que os servidores da Agepen realizam diariamente. O artesanato se apresenta como uma forma de trabalho justa e reconhecida como profissão, tanto que os internos são capacitados e recebem carteira do artesão”, declarou a promotora de Justiça Renata Ruth Goya, uma das organizadoras do evento. “É uma amostra do que podemos fazer com amor, potencializando o ser humano, criando uma sociedade justa, humana e solidária”, complementou.
A exposição reúne peças exclusivas, entre tapetes, esculturas, quadros, bolsas, brinquedos, panos de prato, camas para pets, porta-trecos, cobre-bolos, bonecas, enfeites natalinos, entre outros. Um dos lançamentos deste ano são duas motos confeccionadas a partir de pneus, que garantem uma decoração alternativa e descolada ao ambiente. A servidora aposentada, Goreth Leite, fez questão de comprar “presentinhos” na feira. “Tem tanta coisa bonita e diferente”, disse, ressaltando a beleza dos carrinhos de pneus para plantas.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, “ano a ano os artesanatos apresentados estão cada vez mais bonitos”, o que demonstra “o empenho dos servidores penitenciários”, que tornam possível que a exposição aconteça, bem como o trabalho prisional como um todo. “De nada adiantaria a Agepen ter 195 parcerias com empresas, se não houvesse dedicação por parte dos nossos agentes, que, com isso realizam a nossa missão de ressocializar e possibilitam um ganho para a sociedade, que é a redução da reincidência criminal”, agradeceu.
O prefeito Marcos Trad prestigiou o evento e ressaltou que é de suma importância realizações como esta pelo sistema prisional. “É uma tentativa de devolvê-los melhor ao convívio social, não oferecendo apenas um espaço mercantil para que tenham remuneração, mas buscando salvar vidas, para que não cometam mais atos ilícitos”, ressaltou. “Muito embora a grande maioria da sociedade não entenda o que aqui está sendo feito, a cidade de Campo Grande agradece a todos os envolvidos”, parabenizou.
Em depoimento aos presentes, o interno Anderson Bibiano, destacou que o artesanato representou uma ocupação importante enquanto cumpriu pena no regime fechado. Atualmente cumprindo pena no Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, ele destacou que o trabalho ‘muda a vida das pessoas’. “Se trabalharmos e corrermos atrás, teremos a nossa ressocialização”, afirmou.
Já o diretor do Fórum de Campo Grande, juiz Flávio Saad Peron, reforçou que essa ação conjunta busca a transformação de pessoas, a recuperação de homens e mulheres que estão em processo de ressocialização. “E o trabalho é uma das mais importantes ferramentas desse processo”, disse.
Os artesanatos foram confeccionadas no Instituto Penal de Campo Grande, Estabelecimento Penal “Jair Ferreira de Carvalho” – Segurança Máxima da capital, Centro de Triagem, Presídio de Trânsito, Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi” e Estabelecimento Penal Feminino de Regimes Semiaberto e Aberto de Campo Grande, Módulo de Saúde.além de artesanatos produzidos por custodiados do projeto terapêutico Interarte, realizado no Estabelecimento Penal de Aquidauana, sob a coordenação da agente penitenciária, psicóloga Maria Odiney Moreira de Cabrera.
Na solenidade de abertura da feira, jovens atendidos pelo Programa Rede Solidária, no Jardim Noroeste, realizaram uma apresentação cultural durante a abertura do evento. De forma voluntária, as renomadas artesãs Monique Klein e Isabel Doering Muxfeldt contribuíram diretamente com a difusão de seus conhecimentos aos internos da Máxima e do Semiaberto Feminino da Capital, respectivamente, na elaboração de algumas peças expostas.
O evento também contou com a participação do procurador-geral adjunto de Justiça de Gestão Planejamento Institucional, Hudson Shiguer Kinashi; da promotora de Justiça Jískia Trentin; do presidente do Conselho Penitenciário Estadual Christopher Scapinelli; da advogada Ivanir Mazzoti, representando a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); entre outros.
Texto Tatyane Santinoni e Keila Oliveira
Fotos: Tatyane Santinoni