Campo Grande (MS) – Técnicas de consertos e ajustes de roupas estão sendo ensinadas a internos do Estabelecimento Penal “Jair Ferreira de Carvalho”, o presídio de segurança máxima da capital, e poderão ser utilizadas em benefício dos detentos da própria unidade. O curso de costura é oferecido graças à parceria entre Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e o Poder Judiciário, por meio da 2ª Vara de Execução Penal.
Ministrada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), a qualificação teve início este mês e conta com a participação de 20 internos. Com carga horária total de 80 horas e direito a certificado, objetiva capacitar os detentos para realizarem consertos e ajustes em peças do vestuário feminino, masculino e infantil em tecido plano.
“Primeiramente, aprendem a manusear as máquinas industriais, passar linha, regular ponto e depois trabalham com as roupas, descobrem o que precisa ser consertado e finalizam os ajustes, utilizando a tecnologia das máquinas de costura”, detalha a instrutora do Senac, Vanda Cristina da Silva Sol, destacando que durante o aprendizado é trabalhado também o comportamento de cada detento, incentivando o empenho e a dedicação.
Segundo o diretor da penitenciária, Paulo da Silva Godoy, a intenção é utilizar o conhecimento adquirido e a mão de obra desses internos para confeccionar uniformes para todos os detentos da unidade, com o apoio do Poder Judiciário, assim como ativar o setor de lavanderia, para dar o devido suporte. “A uniformização na vestimenta de custodiados promove igualdade e melhora a segurança no presídio, além de tornar o ambiente prisional mais salubre e limpo, já que evita o acúmulo de roupas nas celas”, afirma o diretor.
Também estão em estudo dois projetos de profissionalização de detentos que serão utilizados no setor de trabalho do presídio. “Com o curso de eletricista, queremos realizar a reforma elétrica e troca de fiação da unidade, que é um grande vilão no consumo de energia”, informa Godoy. “E na especialização em construção civil vamos buscar parcerias com o Conselho da Comunidade para quando o interno progredir de regime já ter a mão de obra qualificada para atuar em atividade produtiva”, complementa.
Oportunidade
Preso há dois anos, o interno Anderson Correa de Oliveira, 38 anos, acredita que o aprendizado representa uma grande oportunidade de conseguir um bom emprego. “Realizar cursos dentro do presídio é uma chance de provar que sou capaz de me ressocializar e ter um trabalho digno e honesto”, ressalta. “Isso mostra que o sistema tem se preocupado em nos aperfeiçoar e melhorar nossas condições para quando conquistarmos a liberdade”, completa o reeducando.
Para o reeducando Valdeir da Silva Pereira, 34 anos, participar de cursos como o de costura é uma esperança de poder mudar o seu futuro. “Isso me aproxima de volta à vida em sociedade, pois o que eu mais almejo é poder ter a minha liberdade e construir a minha família, e, quem sabe, com uma nova profissão”, afirma.
De acordo com o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, além do aprendizado, os internos participantes recebem remição da pena, conforme estabelece a Lei de Execução Penal. “O curso oferecido permite a oportunidade de recomeço para esses internos, contribuindo para a construção de novos valores e não reincidência em práticas delituosas”, reforça o dirigente.
Os cursos de qualificação profissional ofertados a custodiados da Agepen são coordenados pela Diretoria de Assistência Penitenciária, por meio da Divisão de Educação, que acompanha as ações de parceria, atuando junto às instituições e estabelecimentos penais no fornecimento de suporte às qualificações.
Texto: Tatyane Santinoni.
Fotos: Keila Oliveira.