Campo Grande (MS) – Servidores da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) estão participando esta semana, em Campo Grande, do “Curso de Intervenção Tática Prisional e Sobrevivência Administrativa”. Um dos focos da capacitação é a utilização de técnicas que garantam a preservação da integridade física tanto do preso quanto do profissional.
Para isso, procedimentos na prática da imobilização e nas diferentes aplicações de algemas integram as aulas, que estão sendo ministradas pela empresa paulista Team Six, especialista na área de segurança. Custeada e articulada pelos próprios alunos, além de profissionais de Mato Grosso do Sul, a capacitação envolve a participação de servidores que atuam no sistema prisional de outros estados e do Paraguai.
O instrutor de técnicas de imobilização e algemação, pela Team Six, Marco Antônio Dib, é agente há 25 anos em São Paulo, dos quais 14 integrando o Grupo de Intervenção Rápida (GIR), já tendo atuado também em retomada de presídios rebelados em várias partes do país, como no caso de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte. “Estamos aqui dividindo um pouco de nossa experiência”, declara.
Ele explica que os ensinamentos são baseados no padrão que é utilizado na Escola Penitenciária paulista, desenvolvido pelo grupo que hoje, segundo ele, é referência no Brasil. Bicampeão mundial de jiu-jítsu e vencedor de um prêmio na área de Direitos Humanos, ele destaca que a proposta é fazer os procedimentos dentro do que a lei estabelece, garantindo mais segurança ao trabalho do profissional, no sentido de não ter consequências futuras.
A ação conta com todo o apoio logístico Agepen/MS, por meio de sua Escola Penitenciária (Espen). Também tem a contribuição do Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária (Sinsap) e da Polícia Militar Ambiental (PMA), que disponibilizaram alojamentos para alguns agentes que residem fora da cidade, e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MS), que disponibilizou sala para aulas teóricas.
Segundo os agentes João Bosco Correia e Richard Dias, que participaram da organização junto à agência penitenciária para que o curso fosse realizado aqui no estado, a proposta era de que mais companheiros de profissão pudessem ter acesso à qualificação. “Tivemos a experiência fora daqui e muitos dos nossos colegas falaram da vontade de participar também, sendo feito aqui fica mais acessível para todos”, destaca Richard, ressaltando que também atua como instrutor em cursos gratuitos oferecidos pela Agepen.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud Chaves, a busca cada vez maior dos agentes penitenciários por qualificação demonstra o empenho e comprometimento com a profissão. Segundo o dirigente, somente no ano passado cerca de 800 servidores foram qualificados gratuitamente pela Escola Penitenciária. “Este curso que está acontecendo foi uma iniciativa deles, que se dispuseram a pagar por ele, mas também estamos buscando parcerias e recursos para que novas qualificações sejam realizadas, atingindo um maior número possível de agentes”, afirma.
Vários agentes penitenciários que atuam em unidades do interior viajaram à Capital para participarem do aperfeiçoamento. Silvânio Queiroz da Silva é um deles. Lotado atualmente na Penitenciária de dois Irmãos do Buriti (PDIB), ele garante que o aprendizado está sendo muito proveitoso. “O ensinamento é passado com linguagem clara e de forma simples, além de abranger vários tipos de técnicas diferentes também”, garante.
Do estabelecimento Penal Feminino de São Gabriel do Oeste (EPFSGO), a agente Thais Veloso Mansano também viajou para Campo Grande para garantir maior conhecimento agregado ao seu trabalho. “Busco conhecer novas técnicas, mesmo porque é uma profissão de risco, então é primordial nos atualizarmos”, destaca a servidora, reforçando também o aspecto da legalidade nos procedimentos repassados. “Eles frisam muito esse aspecto de fazer somente o que é permitido”.
Intervenção
Neste final de semana, o curso irá abordar técnicas de intervenção prisional e acontece em um presídio que está em fase final de obras. Conforme o presidente da Team Six Brazil, Basílio Souza, a proposta é usar a experiência de combates vivenciados dentro das unidades penais para ensiná-los como agir de maneira prática, rápida e segura. “Conseguimos acoplar todos os conhecimentos de diferentes escolas para passar para eles desenvolverem a doutrina deles”, explica.
Segundo o instrutor de armamento e tiro, Robson José Pereira Ribeiro, que é agente penitenciário há 18 anos em São Paulo, os alunos irão praticar o trabalho em equipe com a utilização do armamento (simulacro do calibre 12) e com o escudo.
A capacitação, que teve início na quinta-feira (25.1), com a parte teórica sobre “sobrevivência administrativa”, encerra no domingo (28.1), abordando a simulação prática de um presídio rebelado.
Texto: Keila Oliveira e Tatyane Santinoni.
Foto: Tatyane Santinoni.