Dourados (MS) – Flores e plantas ornamentais estão presentes no cotidiano das pessoas nas mais diversas formas e locais, proporcionando alegria por meio de sua beleza. Qualquer espaço ganha mais vida e um ar diferenciado quando é decorado com elas, já que têm a capacidade de transmitir delicadeza, charme e elegância ao ambiente em que estão.
Dados do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) apontam que o mercado de plantas está em pleno crescimento e movimenta um faturamento médio de R$ 5 bilhões ao ano. Neste cenário, uma característica importante é a necessidade de mão de obra capacitada e não mecanizada, já que a elaboração de arranjos e serviços de decoração e cuidados com plantas são atividades essencialmente artesanais.
De olho nesta fonte de trabalho e renda, reeducandas que cumprem pena no Estabelecimento Penal Feminino de Regime Semiaberto de Dourados (EPFRS-D) estão participando do “Curso de Formação Profissional para Jardineiro”, oferecido por meio de parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), 3ª Vara Criminal de Dourados e Ministério Público.
A profissionalização envolve a participação de 30 mulheres, que veem na iniciativa uma oportunidade de conquistarem o sustento por meio de ocupação lícita e rentável.
Com carga horária de 345 horas/aula, a capacitação envolve conteúdos teóricos e práticos de plantio, manutenção e paisagismo, abordando conhecimento sobre estudo do PH do solo, cultivo, adubação, organização de viveiros, poda, controle de pragas e produção de plantas ornamentais.
A reeducanda Andreia Cardoso, 35 anos, é uma das participantes e garante estar muito satisfeita com a chance recebida. “Como se trata de planta, é necessário cuidado, carinho e habilidade. Acredito que futuramente posso ter como uma profissão”, afirma, destacando entre os aprendizados a produção de kokedamas, um tipo de ornamento com plantas utilizado em decorações internas.
A instrutora do curso, arquiteta paisagista Monad Clemente, destaca que o mercado profissional para as participantes será amplo, pois os segmentos de clientes vão desde pessoas físicas (residências, apartamentos) a pessoas jurídicas (empresas, condomínios, indústrias, clubes e escolas) e até o município (praças, jardins e parques).
A especialista em paisagismo também aponta que a média salarial para quem atua no ramo de jardinagem gira em torno de R$ 2 mil. “Isso depende muito da qualidade do serviço prestado e fidelização da clientela”, frisa. “Se quiser garantir sua competitividade tem de agregar conhecimento de variedades, adubação correta, época de corte e de plantio, regime de regas, nível de umidade e intensidade do sol e sombra, tipo de terreno e etc.”, pontua.
Segundo a coordenadora do curso, Mara Lima, que é designer de interiores, a idealização da qualificação partiu do juiz César de Souza Lima e do promotor Juliano Albuquerque, com o objetivo de proporcionar uma nova profissão às custodiadas, principalmente devido à escassez de profissionais qualificados na área na região de Dourados.
“A capacitação conta com aulas teóricas apostiladas e atividades práticas, tornando-as aptas ao mercado de trabalho”, enfatiza Mara. “As alunas serão capazes de escolher plantas, ler projetos, organizar canteiros, pois elas contam com aulas de desenho técnico e representação gráfica para isso”, detalha. “Entre todas outras funções que um jardineiro, profissional completo, realiza”, complementa a especialista em designer.
Para a realização das aulas, a coordenadora ressalta que foi alugado um espaço fora do presídio, conseguido graças ao esforço da direção da unidade e equipe de servidores penitenciários, pontua Mara. “Nós ainda contamos com o apoio da rede privada, através do Centro Educacional Rosa Mosso, que fará a certificação”, informa.
Segundo a diretora do presídio, Luzia Ferreira, além de profissionalizar as custodiadas, a iniciativa está refletindo diretamente na rotina do presídio. “Quando fizeram essa proposta do curso, percebemos que poderia ser muito produtivo e está sendo, pois elas realmente acreditam que serão profissionais, que terão uma nova possibilidade”, afirma. “No entendimento da nossa equipe do semiaberto é que está sendo extremamente eficaz na ressocialização dessas mulheres”.
Conforme a dirigente, uma das propostas que deverão ser encaminhadas é a utilização desta mão de obra capacitada para atuar nos canteiros da cidade, embelezando os espaços públicos com as técnicas aprendidas.
Além do conhecimento adquirido e a certificação profissional, a participação nas aulas também assegura remição na pena por estudo, conforme prevê a Lei de Execução Penal. A capacitação teve início em agosto e prossegue até janeiro.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, a qualificação profissional é um dos pilares no processo de reinserção social de apenados, tendo em vista que possibilita uma nova oportunidade quando conquistarem a liberdade.
Aud observa que, graças a parcerias, e programas estaduais e federais de capacitação, somente este ano cerca de 900 custodiados em presídios de Mato Grosso do Sul já foram qualificados. “Além disso, novas capacitações estão iniciando por meio do Procap [Programa de Capacitação Profissional]”, informa.
Na Agepen, os cursos de qualificação são coordenados pela Diretoria de Assistência Penitenciária, por meio da Divisão de Educação.