Campo Grande (MS) – A infecção pelo papilomavírus humano, mais conhecido pela sigla HPV, é a doença de transmissão sexual mais comum em todo mundo. E a preocupação em prevenir a proliferação do vírus motivou uma pesquisa nacional realizada pelo Ministério da Saúde, e internas do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi” (EPFIIZ) da capital, estão participando das amostragens, coletadas nesta quarta-feira (6).
O estudo é pioneiro no Brasil e em Campo Grande serão coletadas amostras de 400 pessoas, entre 16 e 25 anos, de ambos os sexos. No EPFIIZ, serão 120 internas voluntárias e a coleta é feita do material biológico, via oral (bochecho) e cervical (preventivo). Os resultados dos testes sairão em até 60 dias e, em caso positivo, os encaminhamentos serão realizados pela equipe de saúde do presídio.
Todas as ações de saúde nas unidade penais do estado são coordenadas pela Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), por meio da Divisão de Saúde. Segundo a enfermeira da Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) do bairro Serradinho, Jaqueline Xavier de Mattos, o objetivo da pesquisa é embasar a ampliação do alcance da vacina contra essa doença, que atualmente é feita na faixa etária entre 9 e 13 anos.
Segundo a enfermeira, é feita uma entrevista prévia e respondido um questionário com questões relacionadas ao estado de saúde da interna, os hábitos de vida, comportamento sexual e os dados sociodemográficos. “Antes das coletas, é explicado o motivo e esclarecido todo o estudo e só é efetivada se houver interesse do paciente e com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”, explica Jaqueline. Além disso, é entregue o material explicativo à interna participante, que é desenvolvido com charges para melhor compreensão.
Segundo a diretora do EPFIIZ, Mari Jane Boleti, toda assistência disponibilizada às mulheres em situação de prisão é de grande relevância. “Além de garantir a dignidade das custodiadas, as ações de saúde dentro da unidade demonstra a preocupação com o bem-estar e a autoestima delas”, ressaltou a diretora.
Essa é a primeira vez que a reeducanda Thais Dias Alves da Silva, 19 anos, realiza o preventivo. “Essa iniciativa é muito importante para quem está em situação de prisão, assim nos sentimos amparadas e ter assistência à saúde é essencial para qualquer pessoa”, destacou.
A custodiada Adrielly Feitosa, 19 anos, também não tinha realizado nenhum tipo de teste para o HPV nem o preventivo. “Nunca fiz esse exame e nem qualquer tipo de teste para detectar doenças sexualmente transmissíveis e ter essa oportunidade aqui dentro do presídio é primordial, é bom saber que se preocupam com nossa saúde”, afirmou a interna que está presa há seis meses.
A ação no EPFIIZ contou com quatro enfermeiros e alunos da área de enfermagem. Os resultados do estudo irão orientar as políticas de saúde no Brasil, já que possibilita avaliar a frequência da presença do vírus HPV e seus tipos bem como identificar fatores demográficos, socioeconômicos, comportamentais e regionais associados à doença. A pesquisa iniciou no dia 31 de julho e termina no dia 20 deste mês.
Segundo o diretor presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, a prevenção de doenças é a melhor maneira de proporcionar qualidade de vida às pessoas, e dentro dos estabelecimentos penais não é diferente. “Nosso objetivo, quanto instituição, é possibilitar o cumprimento de pena de forma digna, disponibilizando todo tipo de assistência necessária para tanto e por isso apoiamos ações de saúde e nada melhor que a prevenção para concretizar isso”, finalizou.
Vírus HPV
Pode ser transmitido pela via sexual ou pelo contato direto com a pele. O HPV é responsável pelo aparecimento das verrugas comuns da pele e pelas verrugas genitais, conhecidas também como condiloma acuminado ou crista de galo. Mas o que o torna o HPV um vírus de grande relevância médica é o fato de estar relacionado a praticamente 100% dos casos de câncer de colo do útero, um dos tipos de câncer mais comuns na população feminina.
Texto: Tatyane Santinoni.