Campo Grande (MS) – O Módulo de Saúde do Complexo Penitenciário, na capital, conta com uma tecnologia que emite diagnóstico laboratorial da tuberculose em apenas duas horas, agilizando assim o tratamento dos pacientes infectados. O GeneXpert foi fornecido à Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) pelo Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria Estadual de Saúde.
O equipamento tem alta sensibilidade e especificidade que diminuem as chances de um laudo falso negativo e ainda indica se o paciente tem resistência aos medicamentos utilizados no tratamento. O procedimento funciona como um braço no Laboratório Central de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul (LACEN/MS), que fornece os kits necessários para a realização dos exames.
“Se demorava de uma semana a 15 dias para recebermos o resultado dos exames, agora é praticamente imediato esse resultado”, destaca a diretora do Módulo, agente Angélica Rosa de Almeida. “Fez o exame, deu positivo, o tratamento é iniciado imediatamente”, complementa.
Segundo a diretora, estão sendo realizados, em média, 16 exames semanalmente, conforme as demandas encaminhadas pelas quatro unidades penais que compõem o Complexo do Jardim Noroeste: Instituto Penal de Campo Grande (IPCG), Presídio de Trânsito (Ptran), Centro de Triagem (CT) e Penitenciária de Segurança Máxima. “A intenção é que no futuro possamos atender a todos os estabelecimentos penais de Campo Grande”, complementa, reforçando que a capacidade é de até 120 exames por mês.
Subordinada à Diretoria de Assistência Penitenciária, e trabalhando em conjunto com a Divisão de Assistência à Saúde Prisional da Agepen, o Módulo também realiza cerca de 190 atendimentos semanais, entre clínicos, psiquiátricos e odontológicos, e proporciona mais celeridade e qualidade na atenção à saúde de internos do CT, IPCG e Ptran.
A doação foi intermediada pela farmacêutica–bioquímica e doutora em Ciências da Saúde com especialidade em tuberculose, Eunice Atsuko Totumi Cunha, que atua no LACEN/MS. Segundo ela, a proposta da iniciativa é realizar o diagnóstico precoce, consequentemente, diminuir a contaminação entre os custodiados, o que reduz o número de novos casos da doença na população carcerária do estado.
O equipamento já vinha sendo usado no acompanhamento de detentos diagnosticados com a doença por meio de outra ação que a Agepen participa: a carreta móvel, coordenada pelo médico infectologista Júlio Croda, professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que busca o enfrentamento à doença entre a população carcerária. “Mas desde o último mês de agosto, o GeneXpert passou a ser utilizado aqui no Módulo”, informa Angélica.
Isso foi possível após capacitação realizada em Curitiba, pelo Ministério da Saúde, de dois profissionais que prestam serviços para a Agepen para laudarem os exames: os farmacêuticos bioquímicos, Walter José de Góes Moreno, e Paulo Ricardo Souza Moraes.
Walter explica que a realização do exame por meio do GeneXpert utiliza a mesma amostra de escarro para baciloscopia sendo colocada em um cartucho, semelhante ao de uma impressora, em seguida colocada no equipamento GeneXpert. “O teste é muito mais sensível que a baciloscopia, ou seja, ele encontra muito mais resultados positivos e ainda indica se existe resistência a rifampicina, medicamento utilizado no tratamento”, detalha.
Nos casos identificados, imediatamente, é iniciado o tratamento pela equipe do presídio onde o interno estiver custodiado, com acompanhamento do médico infectologista Maurício Pompílio.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, o novo procedimento é um avanço para a saúde pública do sistema prisional do estado. “Esperamos com o novo serviço, proporcionar um diagnóstico mais rápido da tuberculose pulmonar, permitindo assim um tratamento precoce e aumento da detecção da tuberculose resistente, reduzindo consequentemente a morbidade e mortalidade da doença”, destaca dirigente.
Conforme a chefe da Divisão de Assistência à Saúde Prisional da Agepen, Maria de Lourdes Delgado Alves, essa ação possibilita maior prevenção da tuberculose em presídios do estado. “A tendência é realizarmos o rastreamento da doença e evitar a proliferação”, afirma.
Prevenção e Tratamento
A tuberculose é uma doença infectocontagiosa causada pelo “bacilo de Koch”, cujo nome científico é Mycobacterium tuberculosis. Seu contágio ocorre por meio das secreções respiratórias. Doentes não tratados costumam eliminar grande quantidade de bactérias no ambiente, ao tossir, falar ou espirrar. Esses microrganismos podem ser transmitidos via aérea para pessoas saudáveis e provocar o adoecimento.
Atualmente, os custodiados em presídios de Mato Grosso do Sul que apresentam sintomas passam por triagem médica no próprio presídio, onde também é feita a coleta do escarro para os exames. Casos que necessitam de exames de raio-X são encaminhados para a rede SUS.
Nos casos detectados, os internos infectados recebem atendimento na própria unidade prisional, sendo realizado rastreio em todos os companheiros de cela, bem como outros detentos de maior convívio, além de orientação a familiares para procurarem atendimento médico para verificação.
A Agepen também trabalha o enfrentamento à Tuberculose em conjunto com a SES, secretarias municipais de Saúde, Fiocruz e UFGD, sendo que essas duas últimas possuem um projeto desde 2012 de rastreamento da doença nas unidades prisionais, por meio, principalmente de mutirões.
Visita
Representantes do Ministério da Saúde e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) realizaram uma visita, em setembro, ao Módulo de Saúde para conhecer, de perto, a funcionalidade do aparelho GeneXpert e a rotina para diagnóstico da tuberculose. A equipe veio à Campo Grande para acompanhar outra iniciativa que está sendo desenvolvida como forma de prevenir a tuberculose nas unidades penais do estado, mas desta vez, o foco é nos familiares dos custodiados.
O projeto “Prisões Livres de Tuberculose” consiste em levantamento de informações na porta dos presídios durante os dias de visita e acontece por meio da parceria entre a Agepen, por meio da Diretoria de Assistência Penitenciária e de sua Divisão de Assistência à Saúde Prisional, em parceria com o Depen, Ministério da Saúde e Fiocruz.
Dentre os profissionais que estiveram presentes está a enfermeira sanitarista e doutora em Doenças Infecciosas e Parasitárias, Marli Marques, que é apoiadora institucional do projeto; as mobilizadoras da iniciativa, Zilda Maria Galvão Lima Nação e Carmelita Luzia de Moura Fé; que estiveram acompanhadas da farmacêutica-bioquímica do LACEN, Eunice Atsuko Totumi Cunha, e da diretora do Módulo de Saúde, Angélica Rosa.
Texto: Keila Oliveira e Tatyane Santinoni.