Corumbá (MS) -“Eu era muito explosiva, era, de fato, complicada a convivência logo que cheguei. Mas com as aulas e com os conhecimentos sobre o xadrez, foi possível ir buscando a tranquilidade e hoje, garanto que consigo conviver de maneira mais harmoniosa. Me fez pensar em como e que maneira devo agir diante de uma situação, sem ser explosiva e também naquilo que quero para meu futuro, que é uma vida melhor”. O depoimento é da interna Marry Sthefanny de Oliveira, grávida de oito meses e uma das 16 alunas do projeto “Xadrez que Liberta”, desenvolvido no Estabelecimento Penal Feminino “Carlos Alberto Jonas Giordano”, em Corumbá, que foram certificadas na última semana.
Idealizado pelo Juiz da primeira Vara Criminal de Corumbá, André Luiz Monteiro, o projeto é realizado por meio de parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Poder Judiciário, Conselho da Comunidade e Clube de Xadrez Pantanal.
“Percebi resultados práticos dentro de casa ao ver meu filho nas aulas de xadrez. Então, propus ao Augusto Samaniego, professor dele na época, essa parceria, para que pudéssemos dar início ao projeto que ganhou uma proporção tão grande, com finalidade não apenas de ensinar, mas de promover uma verdadeira ressocialização do ponto de vista individual de cada participante”, revelou o magistrado. “O xadrez desenvolve a capacidade de acreditar em si mesmo, do entendimento, estimula a pessoa a estudar. É possível a gente dar um xeque-mate nas coisas ruins e desenvolver nossas potencialidades e virtudes e o xadrez é uma excelente ferramenta para que isso aconteça”, complementou.
Além do desenvolvimento de quem o pratica, seja na forma de pensar ou no comportamento individual, o projeto de xadrez garante às custodiadas redução de pena, estabelecida por critérios autorizados pelo juiz, conforme a Lei de Execução Penal, pois a cada 12 horas da carga horária do curso, elas ganham 1 dia de redução de pena. A Federação Sul-mato-grossense de Xadrez (Fesmax) faz a validação dos certificados.
Segundo a diretora interina do presídio feminino, Elizandra Assis da Silva, além do xadrez, outros cursos e atividades em prol das detentas são desenvolvidas na unidade prisional, que as ajudam na inclusão à sociedade novamente. “Costumo falar para cada uma delas que é importante aproveitarem tudo que se é oferecido aqui dentro, pois de cada atividade se aprende algo e isso reflete na ressocialização de cada uma ao sair daqui. Serve de incentivo”, enfatizou a dirigente.
Para a interna Andreia da Silva, o xadrez a ajudou a melhorar nos ideais depois que conseguir a sua liberdade. “A gente quando cai num lugar desses para pagar nosso erro diante da sociedade, temos que aproveitar as coisas boas, tudo que vem pra gente aqui tem que ser aproveitado de forma intensa, pois assim, vemos que não estamos excluídas totalmente pela sociedade e que eles querem que tenhamos essa oportunidade para voltar e melhorar. E diante disso, o xadrez vem me possibilitando essa conquista na melhoria não só de comportamento, como na forma de pensar e mudar de vida daqui pra frente”, disse, reforçando que as aulas de xadrez a fizeram renascer. “Antes do curso eu estava muito depressiva, no início das aulas não dei muita importância, mas no decorrer, percebi que isso me fazia bem, me dava a oportunidade de mostrar que eu posso, eu consigo. O jogo estimula o desafio e dentro disso, busco esse ideal de uma vida melhor lá fora”, completou.
Na opinião do professor de xadrez Augusto Samaniego, durante a realização das aulas foi possível a melhora da autoestima e mudança no comportamento das alunas. “Essa é a terceira turma a ser formada e fico muito contente e satisfeito em poder estar aqui mais uma vez. Sabemos que elas erraram, mas todos nós erramos e temos direito a uma segunda chance e através do xadrez que elas estão percebendo isso, já que possibilita o poder de pensar e de escolha naquilo que elas querem para o futuro”, finalizou o professor.
Colaboração e Foto: Leonardo Cabral – do Diário Corumbaense.