Campo Grande (MS) – Caracterizado como um trabalho silencioso que busca antecipar fatos e atuar na prevenção de incidentes, as ações de inteligência do sistema penitenciário de Mato Grosso do Sul visam o acompanhamento da massa carcerária e contribuem para manter a ordem dentro das unidades penais. A Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) conta com uma gerência específica de inteligência, que trabalha de forma integrada com as demais forças de segurança pública do país.
Para aperfeiçoar os serviços prestados, agentes penitenciários acabam de concluir o 1º Curso Operacional de Inteligência do Sistema Penitenciário (COISP). A solenidade de formatura e entrega de brevês aconteceu, na última sexta-feira (16.8), em Campo Grande.
A capacitação foi oferecida graças à parceria entre a Agepen, por meio da Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário (GISP) e da Escola Penitenciária (Espen), a Polícia Militar, por meio do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), o 6º Batalhão de Inteligência Militar do Exército Brasileiro e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Durante o evento, o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, destacou que o serviço de inteligência embasa o trabalho do servidor e do diretor que está lá na ponta, na lida direta com o preso, assim como a ação de outras forças da segurança pública. “Por isso nós agentes penitenciários precisamos estar atualizados, e cursos como esses são primordiais para aperfeiçoar nosso trabalho; todo o conhecimento será multiplicado para outros servidores dentro das unidades penais também”, afirmou, agradecendo o apoio de todas as instituições envolvidas para a realização dessa capacitação.
Ao todo, 25 servidores de diferentes áreas de atuação, participaram dos cinco dias de treinamento intenso. Com carga horária de 48 horas, os formandos foram capacitados em gerenciamento de crises; procedimentos em ocorrências envolvendo explosivos; ocorrências críticas em unidades prisionais; técnicas de procedimentos com armas de fogo; armamento; atendimento pré-hospitalar de combate; e técnica operacional de entrevista.
Segundo o gerente de inteligência da Agepen, Pedro Paulo Prieto, a criação desse curso partiu da necessidade de uma especialização específica para a equipe da GISP. “Decidimos estender essa capacitação para servidores que atuam dentro das unidades penais também, para que pudessem entender a importância do trabalho de inteligência, conhecer as técnicas, nos dar suporte e estender o conhecimento para outros agentes”, afirmou.
Para a seleção dos servidores, Prieto ressaltou que foram solicitadas indicações aos diretores de unidades penais, dentre os critérios principais foram porte de arma de fogo, curso de defesa pessoal e de tiro e o restante ficaram a cargo do diretor, “preferencialmente servidores que ocupassem funções de chefia, para que pudessem estar transmitindo esse conhecimento para a equipe, já que tínhamos vagas limitadas”, explicou.
O objetivo do curso foi qualificar os agentes, com foco no serviço de inteligência e no aprimoramento de técnicas específicas voltadas à realidade do sistema prisional. A capacitação foi direcionada a servidores que atuam na GISP e também contou com agentes penitenciários de diferentes unidades penais das áreas de Segurança e Custódia, Administração e Finanças e Assistência e Perícia.
“Nossa ideia agora é criar outros cursos e convidar mais servidores, de forma a abranger o maior número de agentes penitenciários capacitados. Muito mais que aprendizado profissional, esse curso foi uma lição de vida, porque aprendemos técnicas de atendimento de urgência que pode salvar a vida de um companheiro; além de outros conhecimentos de como identificar um explosivo e como isolar a área, entre outros assuntos importantes”, reforçou Prieto.
Na opinião de uma das agentes capacitadas, o curso contribuiu em todos os sentidos, pois tiveram aulas relacionadas com temas que são próprios da profissão, como é o caso do gerenciamento de crises, com instrutores muito capacitados. “Uma questão que me marcou muito foi sobre materiais explosivos, são objetos que nem imaginávamos que poderia ser um explosivo, foi algo muito interessante e de grande valia”, disse a servidora que atua há 18 anos na Agepen.
Em nome da turma, um formando agradeceu toda a equipe da Agepen e das instituições parceiras que não mediram esforços para concretizar a realização desse curso. “Em especial, a todos os instrutores, pelos valorosos conhecimentos compartilhados conosco, e pela grande demonstração de empatia e humildade ao adaptarem os conteúdos ministrados para a melhor adequação à atividade penitenciária. Firmamos com vocês o compromisso de sermos verdadeiros replicadores dos conhecimentos aqui adquiridos em nossas unidades de lotação, e aguardaremos ansiosos pela próxima oportunidade de aprendizado”, afirmou o formando.
O comandante do Policiamento Especializado (CPE), coronel Voltaire Flamarion Garcia Diniz, ressaltou que essa parceria com a Agepen é muito relevante, porque quando se fala em interno, a primeira reação é com os agentes penitenciários, que estão lá dentro dos presídios. “A preparação é primordial, pois esse universo é 100% complexo, garanto que a Polícia Militar não sabe lidar com o que vocês lidam diuturnamente, tem que ter muito amor pela profissão, mesmo porque exige muito do ser humano lidar com pessoas que transgrediram as leis. Nosso trabalho é um pouco mais técnico e acaba quando a gente entrega o custodiado para vocês; o que para nós policiais dura um dia ou dois, para vocês duram 15, 20 anos, então o suor maior é de vocês com toda certeza, por isso contem com a gente sempre, para novas instruções”, garantiu Voltaire, que representou o comando-geral da Polícia Militar durante o evento.
O diretor da Espen, Vilson Guedes, informou que nesse trimestre, 230 servidores participaram de aperfeiçoamento pela Escola Penitenciária, sem contabilizar a turma de hoje. “Foram ofertadas 450 vagas, isso prova que depende também muito do servidor querer se capacitar, fácil não é, são inúmeras questões que envolvem desde logística, tempo e disposição. Sempre são formadas turmas pequenas por conta das especificidades do conteúdo que se trabalha”, disse, destacando o trabalho integrado de diferentes setores para a realização de cada curso.
Também estiveram presentes na solenidade de formatura, o 1º tenente do BOPE, Cleyton da Silva Santos; representantes da Superintendência Estadual da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), da Superintendência de Inteligência (SISP) da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp); além de diretores de unidades penais.
Texto e Fotos: Tatyane Santinoni.