Campo Grande (MS) – Na luta diária para impedir que detentos tenham acesso a materiais ilícitos, a intensificação de trabalhos e instalação de equipamentos com tecnologia de ponta triplicou o número de interceptações nas unidades prisionais de Mato Grosso do Sul nos primeiros seis meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.
O balanço integra o relatório da Diretoria de Operações da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) referente a apreensões com visitantes e de materiais arremessados pelas muralhas dos presídios.
Para a efetividade das operações nas unidades penais de todo o estado, a Agepen conta com o sistema de videomonitoramento em pontos estratégicos, contribuindo com o trabalho de vigilância dos servidores e o acompanhamento em tempo real de toda a movimentação dentro da unidade, assim como, nas proximidades, o que tem facilitado a identificação de arremessos externos de materiais proibidos.
Outro aparelhamento importante é a inspeção por meio do escâner corporal, para todos que adentram os estabelecimentos penais; bem como, o detector de metais e o aparelho de raio-x em esteira para vistoria de objetos levados. Além de garantir maior segurança durante as atividades, possibilitam uma inspeção mais minuciosa e precisa de pessoas e materiais.
Com a suspensão das visitas desde março, por conta da pandemia da Covid-19, as apreensões com familiares este ano tem se concentrado, desde então, em meio a pertences que são levados para entrega aos internos, apesar de terem sido registradas pessoas que utilizaram o próprio corpo para esconder ilícitos até a data da suspensão das visitas presenciais.
Evolução
Conforme o levantamento, ao todo, foram interceptados mais de 79,3 kg de entorpecentes nos seis primeiros meses de 2020. Destes, 97% foram arremessados pelas muralhas dos presídios e apreendidos pelos policiais penais. Já no mesmo período de 2019, esse número chegou a 24,5 kg de drogas capturadas.
Em todo o ano passado, os agentes interceptaram 821 aparelhos de celulares, impedindo que esse meio de comunicação chegasse em poder dos presos. Os dados apontam, ainda, que, somente nos primeiros seis meses deste ano, já foram interceptados 381 celulares pelos policiais penais entre arremessos pelo muro e com visitantes em presídios masculinos e femininos do estado.
Os números não incluem as apreensões realizadas em julho e nem os dados de apreensões realizadas já nas áreas de convívio dos internos; considerado outro trabalho intenso realizado pelos policiais penais que, rotineiramente, realizam inspeções para retirar dos detentos materiais proibidos.
Nesse contexto de interceptações, a camuflagem é um detalhe que chama a atenção dos servidores que, com olhar atento e responsabilidade, conseguem apreender os materiais ilícitos antes de chegar nas mãos dos custodiados.
Dentre as diferentes maneiras inusitadas que os criminosos utilizam para esconder drogas, celulares e outros ilícitos estão invólucros escondidos dentro de sabonetes, creme dental, colchão, sapatos, sabão em pó, entre outros pertences entregues por familiares. No caso dos arremessos, algumas das estratégias são disfarçar os materiais encampando-os com grama, dentro de canos de PVC ou mesmo em garrafas pets, entre outros.
EPJFC e PED são recordistas em interceptações
Representando 52% das apreensões de todo o estado, no Estabelecimento Penal “Jair Ferreira de Carvalho (EPJFC) – presídio de Segurança Máxima da capital – os servidores interceptaram mais de 41,3 quilos de entorpecentes neste ano, quantidade 250% superior a do ano passado.
Já a apreensão de celulares subiu cerca de 50%, passando de 187 para 279 aparelhos recolhidos pelos policiais penais antes de chegar em poder dos custodiados.
O diretor do EPJFC, Mauro Augusto Ferrari de Araújo, aponta que o grande volume de interceptações na unidade se dá pela atuação integrada dos servidores, aliado ao uso de tecnologias, entre elas, a instalação de três câmeras de alta precisão.
Segundo o dirigente, é surpreendente o que é apreendido. “Os arremessos que localizamos não se limitam apenas a drogas e celulares, já encontramos bebida alcoólica, roupas e comida que não é autorizada, etc. Na última apreensão, por exemplo, pegamos 12 Kg de maconha, 300 gramas de cocaína e seis pacotes de carne”, revelou.
Atuando na linha de frente nos procedimentos de segurança, o policial penal Alves, um dos chefes de equipe de plantão da Máxima, garante que as câmeras são fundamentais na prevenção de delitos e no combate à entrada de ilícitos. “O investimento em estrutura tem sido prioridade para a direção do presídio, o que tem facilitado a atuação de toda a equipe de servidores, os quais trabalham com disposição, atitude e comprometimento; todo esse conjunto tem feito a diferença para a efetivação das atividades”, ressaltou.
Em Dourados, o maior presídio do estado realizou a apreensão de 9,8 quilos de entorpecentes, entre substância análoga à maconha e cocaína entre janeiro e junho deste ano. Valor três vezes maior em relação ao mesmo período do ano passado, que ficou na faixa dos 3,2 quilos.
Conforme o diretor da Penitenciária Estadual de Dourados, Antônio José dos Santos, os trabalhos contam com o auxílio de um moderno sistema de monitoramento de alta precisão. “Instalamos quatro câmeras do modelo ‘speed dome’ em pontos estratégicos, além das rondas ostensivas que os servidores realizam diariamente e a experiência profissional nas revistas têm possibilitado o sucesso das ações”, informou o diretor.
Trabalho Integrado
A Agepen atua com sua Gerência de Inteligência trabalhando em conjunto com outros órgãos de investigação, auxiliando na antecipação de casos, bem como na identificação de criminosos. O aperfeiçoamento profissional das atividades desempenhadas pelos servidores, por meio de capacitações e oferecimento de apoio na vigilância também tem sido o foco da agência penitenciária, com o objetivo de oferecer um cumprimento de pena mais seguro e eficiente.
Além disso, a integração entre as forças da segurança pública também tem sido crucial para alcançar esses resultados, como por exemplo, o suporte da Polícia Militar na efetivação de rondas ostensivas, assim como, da Polícia Civil na questão de perícias, investigações e registro de ocorrências.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, o aumento expressivo nas interceptações é reflexo de inúmeros fatores como a atuação integrada da equipe de servidores e apoio da tecnologia.
“Cada vez mais buscamos inibir essa prática criminosa e a modernização das estruturas tem garantido maior efetividade nessa atuação. Aliado a isso, temos o importante trabalho realizado pelos policiais penais, que, com empenho e dedicação, estão sempre focados em evitar que materiais proibidos cheguem nas mãos dos custodiados demonstrando a seriedade e honradez com que realizam seu trabalho”, finalizou o dirigente.
Texto: Tatyane Santinoni e Keila Oliveira.