Corumbá (MS) – O projeto “Libertas pela Voz”, que leva aulas de canto a reeducandas do Estabelecimento Penal Feminino “Carlos Alberto Jonas Giordano (EPFCAJG), em Corumbá, e possui um coral instituído, com apresentações até mesmo fora dos muros da unidade prisional, tem cada vez mais colhido frutos, demonstrando diretamente à sociedade, por diversas vezes, o trabalho de ressocialização através da música desenvolvido no presídio.
A mais recente apresentação foi realizada no início deste mês com a participação de uma das integrantes do grupo no 16º Concerto de Santa Cecília, promovido pela da Banda Municipal Manoel Florêncio, parceira do projeto no estabelecimento prisional. A interna Cristiane Gomes de Macedo emocionou e arrancou aplausos do público presente ao interpretar a canção Allelujah, acompanhada pelo coral Cidade Branca e por músicos da Banda Municipal. A detenta também teve autorização judicial para participar, antes da apresentação, de ensaios fora da unidade prisional com os músicos.
A reeducanda revelou que sempre gostou de cantar, mas foi no presídio, quando todas as esperanças pareciam ter acabado, que encontrou na música incentivo para recomeçar a construir uma nova história. “Eu tinha desistido da vida, mas, graças ao coral, voltei a viver, larguei as drogas e percebi que é possível realizar um sonho, seja do tamanho que ele for”, destacou a detenta. Sobre a apresentação, a custodiada disse ter se sentido “maravilhada”. “Fui muito bem recebida por todos, foi um momento único em minha vida”, agradeceu Cristiane.
O coral faz parte do projeto “Sala de Música”, da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), desenvolvido no presídio desde 2009, que trabalha a arte musical como atividade terapêutica, ajudando a proporcionar mais harmonia e tranquilidade ao ambiente prisional. “A ressocialização das reeducandas é uma preocupação constante da Agepen e o projeto visa trabalhar esse ponto, preparando elas para o retorno à sociedade”, destacou a diretora do presídio, Anelize Lázaro de Lima.
De acordo com a diretora, inicialmente, o projeto pretendia somente contribuir para canalizar positivamente as questões emocionais, mas hoje envolve até mesmo instrução de técnicas vocais, com a instrutora voluntária Fernanda Fernandes, possibilitando a profissionalização do coral para apresentações ao público, como a ocorrida no concerto. “Já tivemos várias apresentações fora do presídio e, a cada lugar que elas se apresentam, um espetáculo novo que surpreende quem assiste”, afirmou a diretora.
Para o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, o projeto “Libertas pela Voz” é uma das ações de referência da instituição no sentido de proporcionar humanização da pena e reinserção social. “A música é um acalento, ajuda a melhorar as tensões, o que reflete no bom comportamento, e o coral do presídio feminino de Corumbá, cada vez mais, tem demonstrado a população que o sistema penitenciário é composto por pessoas, que erraram sim, mas que é necessário dar opções para que façam coisas boas e rompam com o ciclo da criminalidade”, finalizou Stropa.