Campo Grande (MS) – Neste mês de agosto foi concluída a reforma da 6ª escola atendida pelo programa Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade,realizado por meio de parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário, 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande e Secretaria de Estado de Educação.
Com mais esta obra, o projeto já proporcionou ao Estado de Mato Grosso do Sul a economia de mais de R$ 2 milhões, conforme dados levantados pelo Judiciário.
Bem distante do centro da cidade, em uma rua sem asfalto, a Escola Estadual José Ferreira Barbosa, localizada no bairro Vila Bordon, foi totalmente revitalizada, e, no lugar do chão batido para as atividades esportivas, uma quadra de cimento é o grande atrativo para meninos e meninas. A inauguração da obra está marcada para o dia 14 de setembro, às 8 horas.
O projeto leva a mão de obra de presos para dentro de escolas estaduais que necessitam de uma reforma. E é pensando em ser justo que o projeto é custeado com o dinheiro dos próprios presos, por meio do desconto de 10% do salário de todos os detentos que trabalham na Capital via convênio com o poder público. Na outra ponta, jovens e crianças conquistam uma estrutura mais adequada para buscar um caminho diferente da criminalidade: a educação.
Como fazer justiça em um mundo que pouco consegue ser justo com a grande maioria, muito menos com as minorias sociais? A tarefa do Judiciário é algo quase inatingível. Mas às vezes, fracionando pedaços, ações específicas conseguem levar um pouco dela para quem já está acostumado com a injustiça. É assim que o programa “Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade” busca ser a diferença.
Acessibilidade e autonomia
Para uma dupla de aluna e professora a diferença na rotina escolar veio por meio da construção de rampas de acessibilidade e banheiro adaptado. A pequena Joana, de 10 anos, teve hidrocefalia, o que acarretou dificuldades cognitivas e de locomoção. Irmã de outros quatro alunos, um deles de 6 anos, também cadeirante, ela passa a maior parte do tempo na cadeira de rodas, a qual, em razão da coordenação motora compreendida, não consegue conduzir sozinha.
É aí que entra a professora de educação especial, Nereide Gonçalves, que a conduz pelas rampas agora existentes em todos os locais da escola, como também nos estudos. Em virtude da condição de Joana, o Estado lhe garante uma professora de apoio que a acompanha durante todo o período escolar.
Cabelo enfeitado com trancinhas, caderno e tênis colorido, Joana não permite que sua condição lhe tire a alegria. De sorriso fácil, ela sonha em ser médica, porque acredita que é uma profissão “muito legal”. No tempo em que não está na escola, ela afirma que fica em casa onde gosta “de brincar, essas coisas…”.
Há quem comente que anda apaixonada, mas ao longo da entrevista disse que não é verdade. No olhar, além da alegria, a cumplicidade com a professora Nereide, parceira de todas as horas, até mesmo para improvisar um banheiro adaptado.
Antes da reforma, conta a professora, “eu fazia muita força para conduzir ela pela escola, principalmente na sala de informática, que possui um desnível. Eu também tinha muita dificuldade na quadra, que era de terra. No banheiro, antes não tinha o lugar para ela se segurar, eu então colocava como apoio uma carteira. A torneira estava com defeito e ela não conseguia abrir e conforme abria não conseguia fechar. Hoje não, o assento sanitário está adaptado, com as barras de apoio e a torneira é adaptada a ela, de puxar, então ela conquistou autonomia”.
Para Nereide, essas melhorias permitirão ensinar mais autonomia a Joana, primeiro ela está trabalhando essa a independência na hora de ir ao banheiro, na sequência pretende garantir à aluna poder brincar e se locomover sozinha na quadra.
Como profissional, afirma Nereide que sua autoestima é outra depois da reforma, de poder trabalhar em um ambiente mais estruturado, algo que foi “muito bem-vindo tanto para mim quanto para Joana”.
Talvez não seja a solução do todo. Certamente não é, mas esta reforma trouxe um pouco mais de dignidade àqueles que deixaram o presídio e puderam proporcionar um bom serviço a esta instituição de ensino, cercada por duas comunidades indígenas, na saída para Indubrasil, longe dos olhos de boa parte da população, mas que trouxe uma alegria contagiante a professores, alunos e funcionários que lá passam boa parte de seu dia.
Justiça Social
O programa Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade consiste em ressocializar os reeducandos, oferecendo ao preso oportunidade de trabalho e reintegração com a sociedade de forma definitiva, atendendo os objetivos do sistema penitenciário semiaberto.
Com este e outros programas, Mato Grosso do Sul se destaca como um Estado que tornou eficiente o sistema semiaberto e proporciona uma oportunidade do reeducando prestar serviço à comunidade, beneficiando a educação.
Em três anos, outras cinco escolas estaduais receberam as mesmas reformas, beneficiando 4.394 alunos, e totalizando aproximadamente R$ 1.600.000,00 de economia ao Governo do Estado, até então.
Fonte: Assessoria de Comunicação do Tribunal de Justiça.