Campo Grande (MS) – “Eu era uma pessoa amarga e triste, vivia chorando, sofrendo, mas aprendi a perdoar o meu agressor e, principalmente, a perdoar a mim mesma; sou uma pessoa diferente agora”. O depoimento é de uma reeducanda do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi” (EPFIIZ), na Capital, vítima de abuso sexual pelo avô quando tinha oito anos. Ela é uma das 15 participantes Programa de Empoderamento a Vítimas de Abusos e Violência, o Pro-Eva, desenvolvido no presídio por meio de parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul (Funtrab) e a associação responsável pelo programa.
O programa consiste na realização de 14 encontros de grupo, com a realização de palestras, dinâmicas e compartilhamento de histórias, segundo a presidente do Pro-Eva, assistente social Glória Eduardo Soterio. A ação também é desenvolvida junto a custodiados da Casa do Albergado de campo Grande, com internos que respondem pelo crime previsto na Lei Maria da Penha. “Buscamos resgatar a dignidade e humanidade para quebrar o ciclo de violência”, ressalta a presidente.
Nas histórias contadas pelas detentas, os mais diversos tipos de abusos sofridos durante a vida, traumas que dificultaram as relações sociais e, muitas vezes, acabaram influenciando para inserção no mundo do crime. “Trabalhamos com elas a conscientização sobre a violência e suas consequências, buscamos o resgate da dignidade e valores para a restauração do cárter e expectativa de vida”, destaca a psicóloga da Funtrab, Gisele Oliveira, coordenadora do projeto.
Segundo a diretora do presídio, Mari Jane Boleti Carrilho, o resultado do projeto está sendo muito positivo, já que as internas têm essa possibilidade de enfrentamento em busca da superação das dores e mágoas, o que acaba refletindo na disciplina das custodiadas.
O diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, participou de uma reunião do grupo esta semana e pôde ouvir relatos das internas sobre as transformações proporcionadas na vida delas pelo Pro-Eva. Stropa destacou a importância de iniciativas como essa serem realizadas no ambiente prisional, no sentido de reinserir positivamente as custodiadas no seio social. “A missão do sistema prisional não é mantê-las presas, é devolvê-las à sociedade melhor do que quando entraram para que não voltem a cometer crimes; não queremos vocês aqui, queremos vocês em liberdade e com uma vida digna”, disse o dirigente à internas.
O encontro contou também com a participação do diretor de Assistência Penitenciária, Gilson Martins. Ele destacou que o trabalho realizado pelo Pro-Eva oferece uma concepção diferente sobre as maneiras de enfrentar a violência sofrida, dando condições para que as detentas possam aceitar e buscar essa mudança na vida delas. “Nosso trabalho na Agepen é possibilitar que essa transformação aconteça e o Pro-Eva está nos ajudando de maneira significativa nisso”, afirmou.
O Programa de Empoderamento a Vítimas de Abusos e Violência foi lançado em dezembro do ano passado no EPFIIZ e irá concluir os trabalhos do primeiro grupo de assistidas nesta semana. Conforme as organizadoras, novos trabalhos serão desenvolvidos na unidade prisional.