Campo Grande (MS) – Para propiciar reflexão sobre identidade pessoal, ajudar a descobrir um propósito de vida e, ao mesmo tempo, contribuir com a alegria de crianças com vírus HIV/Aids, reeducandos de três presídios de Campo Grande estão participando do projeto “Conecta – Identidade”. A iniciativa é desenvolvida em parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e a Escola Estadual Pólo Professora Regina Lúcia Anffe Nunes Betine, e integra diretrizes da Secretaria Estadual de Educação (SED).
Durante a realização das atividades, os internos matriculados nos ensinos regulares do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi” (EPFIIZ), do “Jair Ferreira de Carvalho“ (Máxima) e do Instituto Penal de Campo Grande (IPCG) confeccionam brinquedos com produtos recicláveis. São casinhas de bonecas feitas com papelão, trens, quebra-cabeça, livros de pano, carrinhos com garrafa pet, entre outros, brinquedos que levarão encanto e esperança à Associação Franciscana Angelinas (Afrangel), que oferece assistência a 43 crianças, entre 0 e 12 anos de idade, portadoras do HIV/Aids.
Para a diretora adjunta da escola, Viviane Aparecida da Silva, as atividades desenvolvidas no âmbito da educação escolar visam desenvolver no aluno habilidades e competências que o auxiliem em sua reinserção na sociedade. “Este projeto trabalha no resgate e valorização da identidade e a educação é uma das vias para o sucesso da integração social de qualquer pessoa”, destaca.
Os trabalhos também consistem na apresentação de palestras com psicólogos e exibição de filmes relacionados com o tema identidade e engloba todas as disciplinas escolares, por se tratar de um projeto multimodular. Ao todo, cerca de 340 reeducandos matriculados nos ensinos fundamental e médio dos presídios participam das atividades. Dentre os filmes exibidos estão “Coach Carter – Treino para a Vida”, “Intocáveis” e “Escritores da Liberdade”.
Conforme o coordenador pedagógico do projeto, Flávio Henrique Souza de Araújo, a entrega dos brinquedos está programada para dezembro deste ano após o evento da Mostra Cultural da escola, onde apresentarão os trabalhos produzidos em uma feira de empreendedorismo. “Para o desenvolvimento das ações, estão sendo utilizados vários recursos tecnológicos e todas as atividades promovidas visam gerar reflexão sobre valores e a construção da identidade do homem”, afirma.
Há seis anos presa, a interna Juliana Lira Andrade, 31 anos, diz estar muito feliz em participar desse trabalho, além de poder contribuir para o meio ambiente e a alegria das crianças. “Desenvolvi com muito carinho um quartinho de boneca com papelão e é gratificante ver que consegui transformar um material que iria para o lixo em algo importante e divertido para uma criança”, conta.
Já para a reeducanda Juliana Jaskulski, de 26 anos, esse trabalho traz sentimentos interessantes. “A sensação de que somos importantes, abre a nossa mente e a visão das coisas e quero que a sociedade veja que também podemos ser exemplos”, ressalta a interna que está presa há quatro anos.
A professora Arlete das disciplinas de Química, Biologia e Física destaca que a principal função desse projeto é a interação entre os custodiados para desenvolver um trabalho para outro tipo de público. “Aqui todos aprendem a respeitar a diversidade e se sensibilizam com o ‘doar’”, afirma a professora.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, manter os internos motivados e incentivar as boas atitudes contribui, consideravelmente, durante o cumprimento de pena. “Precisamos devolver à sociedade cidadãos melhores, e possibilitar a interação entre sistema prisional, educação e comunidade aumenta a chance de ressocialização e a redução da reincidência criminal”, finaliza o dirigente.
Texto: Tatyane Santinoni.