Uma das fraquezas do homem
É a desconfiança,
nesse ponto, nós carcereiros, somos abastados.
Desconfiamos de quase tudo,
Confiamos apenas naquilo que podemos tocar, confirmar, sentir…
Confiamos no nosso apito, na nossa caneta, nem tanto.
Não somos apenas um sujeito que abre cadeados,
puxa pesados portões de ferro, que olha o relógio,
que faz o confere às seis da tarde,
que revista grades, paredes, piso e teto.
Que vê o movimento da rua pelas câmeras.
Perdoai.
Mas somos outros.
Somos homens e mulheres que pensam,
sente, passeiam com os filhos, jogam futebol,
escalam morros, fazem trilhas,
dançam na festa e bebem no bar.
Perdoai.
Mas somos outros.
Somos quem guarda as noites em muralhas, rondas e gerais.
Somos quem guarda a sociedade dos criminosos:
que tiram vidas e esperanças, estupram mulheres e crianças,
dos pedófilos nojentos, dos vendedores de entorpecentes de almas.
E a cada plantão ou expediente,
nos renovamos como as borboletas.
Autora: Agente Penitenciária Maria Aparecida de Barros – Lotada no Estabelecimento Penal Feminino de Rio Brilhante.
Com inspiração no Poema “Retrato do artista quando coisa”, de Manoel de Barros.