Campo Grande (MS) – De forma voluntária, um trabalho vem aliando conhecimento sustentável e reintegração de custodiados no Estabelecimento Penal “Jair Ferreira de Carvalho” (EPJFC) – presídio de Segurança Máxima da capital. A partir das orientações da empresária Monique Klein Rocha, os internos estão aprendendo a confeccionar bolsas, aventais e puxa-sacos com as sobras de tecidos da oficina de costura da unidade penal.
A iniciativa acontece pela Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), por meio da Diretoria de Assistência Penitenciária, juntamente com a direção do presídio.
Formada em jornalismo, Monique revela que desde que concluiu a especialização em Educação Ambiental, o lixo deixou de ser apenas lixo e virou resíduo, que pode ser transformado em dinheiro e ocupação. “Fiquei encantada com sacos e sacos das sobras de tecidos da oficina de confecção do presídio. A mão de obra é boa e decidi vir compartilhar meus conhecimentos, mesmo porque é uma maneira deles reaproveitaram os resíduos e terem um recurso também”, explica.
Em meio à criatividade, os pedaços de tecidos vão se transformando em peças exclusivas e autênticas através da técnica de patchwork, que é justamente essas aplicações com retalhos. Para incrementar a produção, Monique levou pedaços de malotes de diferentes cores, que é justamente o material utilizado em sua confecção.
Há 10 anos a empresária vem comercializando bolsas recicláveis e atualmente atende todo o Brasil. “Pretendo expandir meu negócio e iniciar a exportação para outros países, então é um mercado bem abrangente e promissor”, conta.
Com três dias de treinamento, nove reeducandos aprenderam a técnica e passaram a produzir as peças desde outubro, conforme a imaginação de cada um. Nesta coleção, o foco principal será voltado à natureza e a ideia é que essas peças produzidas sejam comercializadas na Feira Artesão Livre – Especial de Natal, que será realizada em dezembro no Fórum da capital, para que fiquem conhecidos por esse novo estilo e inovação.
Empolgado com as peças que vão surgindo, o interno Fernando Domingues de Freitas, 46 anos, garante que agora todos passaram a enxergar o que antes era apenas lixo como oportunidade. “Aprendemos muitas coisas interessantes, não tínhamos ideia do que fazer com esses retalhos, hoje conseguimos fazer peças bem criativas e bonitas também. Conhecemos literalmente um novo trabalho e sei que posso fazer isso lá fora e ter uma renda extra com certeza”, revela.
O reeducando está preso há nove anos e conta que também pretende abrir sua própria marcenaria quando conquistar a liberdade, que foi outra profissão que aprendeu quando esteve preso em Três Lagoas.
Conforme a chefe da Divisão de Trabalho da Agepen, Elaine Cecci, responsável por intermediar essa iniciativa, o cenário atual brasileiro mostra a necessidade de adaptação às novas tendências do mercado de trabalho e a participação de todos os seguimentos da sociedade no ambiente carcerário é extremamente relevante para a efetiva reinserção das pessoas que se encontram em situação de prisão.
“O custodiado para ser reinserido nesse mercado precisa aliar baixo custo de produção, àquilo que se propõe a produzir e aceitabilidade de produtos que tenham valor de mercado e bom gosto, e é exatamente isso que essa experiência com a Monique tem revelado”, ressalta Elaine Cecci, agradecendo a participação da empresária nesse desafio.
Para o próximo ano, a intenção é que seja firmada uma parceria com a Agepen e parte da produção de Monique seja feita dentro do presídio de Segurança Máxima da capital. “Eles têm um tesouro na mão, para transformar isso em coisas bem criativas. São homens talentosos com oportunidade de se profissionalizar para conseguirem reingressar no mercado de trabalho. E com a costura eles podem atuar em diversos lugares ou abrir o próprio negócio”, concluiu Monique.
Além do Estabelecimento Penal “Jair Ferreira de Carvalho” da capital, Monique Klein, também já realizou trabalho voluntário no Centro Estadual de Atendimento ao Deficiente da Audiocomunicação (CEADA) e na Associação Pestalozzi de Campo Grande, justamente para mostrar que esse tipo de trabalho qualquer pessoa pode fazer, desde que alguém se proponha a ensinar.
O diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, destaca que os diversos projetos desenvolvidos junto à massa carcerária de todo o estado contribuem para o processo de reintegração social dos apenados, seja na área profissional, seja na formação de novos valores e comportamentos. “Ações como essas valorizam o trabalho prisional e influenciam diretamente na diminuição da violência e do crime”, finaliza.
Texto e Fotos: Tatyane Santinoni.