“Escrevi meu nome, pela primeira vez, aos 38 anos, dentro da prisão”. O relato é da interna Lucilene, que iniciou seus estudos na escola instalada dentro do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi”, na Capital, e encontrou no “mundo das letras” a oportunidade de voltar a sonhar.
“Não sabia ler nada, e agora já consigo juntar as letras, entender melhor, quero terminar meus estudos, meu sonho, que é ler e escrever sem dificuldades, pois, sem isso, não há possibilidade de trabalho”, afirma a detenta, revelando que almeja se tornar cozinheira profissional quando conquistar a liberdade.
No Dia Nacional da Alfabetização, 14 de novembro, o exemplo de Lucilene reflete o impacto positivo que o oferecimento educacional tem no sistema penitenciário de Mato Grosso do Sul, onde grades e cadeados não são empecilhos para que a educação proporcione transformações na vida de homens e mulheres, que um dia escolheram o caminho do crime, mas que ainda podem escrever uma história diferente.
O ensino formal é oferecido em 30 unidades prisionais da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário, em 20 municípios do estado e ocorre em parceria com a Secretaria Estadual de Educação (SED), pelo Sistema Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ao todo, conforme dados da Divisão de Assistência Educacional foram 3,9 mil internos matriculados no ensino formal em Mato Grosso do Sul em 2020.
Assim como Lucilene, a interna Rosimeire também fazia parte da parcela não alfabetizada da população, mas conseguiu mudar esta realidade nas salas de aula instaladas no presídio da Capital. “Foi aqui que encontrei a chance de voltar à escola, de alimentar o que há de melhor em mim, e consegui escrever meu nome pela primeira vez”, comenta.
A educação, segundo ela, não foi uma opção em sua vida, pois aos nove anos teve de assumir os cuidados dos irmãos mais novos, enquanto o pai trabalhava, após perder a mãe muito jovem. “Minha escola foi o mundo, onde aprendi a ter uma vida totalmente diferente daquele sonho que eu tinha para mim. E eu acabei escolhendo o caminho mais fácil, fiz o melhor que conseguia naquele momento, mas hoje estou disposta a lutar pelos meus sonhos, por uma vida melhor, longe do crime e das drogas”, assegura.

Rosimeire revela que a educação despertou os sonhos de infância que estavam esquecidos e almeja uma vida melhor, longe da criminalidade.
Aos 50 anos, a reeducanda conta que a alfabetização representou muita coisa boa, como a independência e a melhor autoestima. “Sou educada hoje, aprendi a ter amor em mim mesma e ao próximo e principalmente aprendi a dar valor em tudo que é difícil, tudo que é fácil eu não gosto mais”, afirma a detenta que, graças ao estudo, pôde concluir o ensino médio no presídio. Seu sonho agora: ser professora de matemática.
Conforme a Lei de Execução Penal (LEP), a cada 12 horas de estudo, o detento tem direito a remir um dia da pena. Além do desconto no total de pena a ser cumprida, estudar abre oportunidades de recomeço aos custodiados, refletindo na redução da reincidência criminal, acredita o diretor-presidente Aud de Oliveira Chaves. “Neste sentido, a Agepen tem investido em ações que possibilitem ensino aos internos, sendo oferecido, dentro dos estabelecimentos prisionais, desde a alfabetização a cursos de pós-graduação”, finaliza.
Todas as ações educacionais desenvolvidas nas unidades prisionais do estado são coordenadas pela Diretoria de Assistência Penitenciária da Agepen.
Texto: Keila Oliveira e Tatyane Santinoni
Fotos: Tatyane Santinoni