Campo Grande (MS) – Pessoas que ajudaram a escrever a história do Sistema Penitenciário de Mato Grosso do Sul, que dedicaram anos de suas vidas para uma sociedade mais segura e justa, e que hoje estão aposentados, tiveram uma manhã especial preparada pela Diretoria de Administração e Finanças da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), por meio o Núcleo de Apoio Psicossocial ao Servidor.
O “I Encontro Estadual para Servidores Aposentados da Agepen/MS” foi realizado no último dia 31, na Escola Penitenciária, envolvendo palestras, roda de conversa e momentos de descontração e confraternização. A experiência serviu não só para relembrar o passado, e conhecer melhor a situação atual em que eles estão, mas também para ajudar a construir um futuro melhor para os que ainda estão na ativa.
De acordo com o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, a ação faz parte da política de valorização do servidor, que está sendo construída não só na instituição, como também em nível de Governo. A intenção, segundo ele, é proporcionar o acolhimento de pessoas que não estão mais trabalhando, contribuindo para que os vínculos não se percam.
A iniciativa, conforme explicou o coordenador do projeto, Arnold Rosenacker, diretor de Administração e Finanças da Agepen, também servirá de base para o desenvolvimento de um “programa de desaceleração“. “Por meio do Núcleo de Apoio Psicossocial ao Servidor, estamos implantando um programa votado às pessoas que estão entrando no tempo de se aposentar; a intenção é que realizemos iniciativas para que esse processo ocorra da maneira mais tranquila possível”, informou.
Participantes
O I Encontro Estadual para Servidores Aposentados da Agepen reuniu 21 agentes penitenciários aposentados. Edmundo Belo Espina, 70 anos, foi um dos participantes e revelou que em seus 28 anos de carreira testemunhou e vivenciou várias transformações do sistema penitenciário do Estado. Ele contou que ingressou na carreira penitenciária em 1979, trabalhando no Instituto Penal de Campo Grande, e atuou em várias unidades da capital e do interior, inclusive na “casa de menores”, no período em que a carreira era única, se aposentando em 2007, quando atuava como diretor do Centro de Triagem.
Do serviço, Edmundo afirmou que guarda boas recordações, apesar de ter tido de “se adaptar às necessidades, dificuldades e sacrifícios”. “A gente tinha receio do tipo de trabalho, mas a maioria dos colegas se empenhava muito, era um ajudando o outro; a cooperação mútua é muito importante nessa profissão”, ressaltou.
Sobre o encontro preparado pela Agepen, o agente aposentado acredita que é uma ação muito positiva. “É uma coisa gostosa rever velhos companheiros, alguns eu de vez em quando ainda encontro na rua, mas tem outros que eu nunca mais tinha visto”, comentou.
O casal José Maria Rodrigues, 70 anos, e Dalziza Gomes de Oliveira Rodrigues, 59 anos, também dedicou grande parte de suas vidas trabalhando em prol do sistema prisional, ele na área de segurança e custódia e ela na parte administrativa, e fizeram questão de participar do encontro.
Da carreira na agência penitenciária, além do relacionamento amoroso – cujo namoro iniciou-se por conta do vínculo profissional e hoje já se somam 31 anos de casamento – eles garantem que levam a satisfação das conquistas possibilitadas pelo trabalho digno e a sensação de dever cumprido. “O meu trabalho me proporcionou muitas coisas, dele eu tirei o meu sustento e da minha família, aprendi muito e sempre procurei dar o meu melhor”, afirmou Dalziza. “É um trabalho diferente, que precisa ser encarado com muita tranquilidade e sabedoria”, completou.
Eles também defenderam a ação da direção da Agepen de reunir os aposentados e compartilhar momentos alegres e descontraídos. “É muito bom rever os amigos, pessoas com quem convivemos muitos anos, ver que deixamos laços. Eu acredito que esse trabalho vai se fortalecer cada vez mais, pois muitos dos que eu liguei reforçando o convite para participar, e que não foram, me ligaram, eu contei como foi bom e me disseram que irão participar dos próximos encontros”, disse Dalziza.
Para a assistente social Iracema Mota, 61 anos, que se aposentou em 2011, a reunião do grupo de aposentados é importante, no sentido de incluir e aproximar as pessoas. “Fiquei muito feliz com o encontro, pois tivemos uma vida na Agepen, já que muitas vezes passamos mais tempo com os colegas de trabalho do que com a própria família, e é uma satisfação muito grande revê-los, mesmo os que não trabalhamos diretamente, mas que, de certa forma, dividimos situações difíceis e conquistas. Alguns aposentados estão isolados, se sentem solitários, então é importante rever valores, dar essa atenção especial”, afirmou.
Marcos Camilo Falcão, 66 anos, pôde testemunhar o início da materialização de um projeto que ajudou a construir, quando ainda estava na ativa e fazia parte do Conselho de Administração Penitenciária (CAP). A ideia, explica ele, surgiu quando sentiu na pele os impactos da aproximação da aposentadoria. Com uma vida dedicada ao sistema prisional, sendo, segundo ele, o terceiro funcionário a tomar posse no antigo Departamento do Sistema Penitenciário (DSP), em 1979, e se aposentou em 2011, sempre atuou na área jurídica e criminológica.
“É muito difícil passar por aposentadoria, é um impacto violentíssimo, você perde a sua rotina, perde as relações, cheguei a ter que fazer análise, o que me ajudou bastante, imagina quem não teve esse acompanhamento”, ressaltou. “É importante a instituição oferecer um acompanhamento pelo menos seis meses antes de a pessoa se aposentar”, completou.
O servidor aposentado garantiu que está bastante entusiasmado com o projeto. “Achei lindo aquele momento, é muito bom saber que não estamos esquecidos. Já tenho várias propostas para apresentar, uma delas é que exista na Agepen um responsável por fazer a interlocução entre os aposentados e a Agepev [Agência de Previdência Social de Mato Grosso do Sul]”, finalizou.
Novas ações
Novas ações voltadas aos servidores penitenciários aposentados estão programadas, segundo a chefe do Núcleo de Apoio Psicossocial ao Servidor, Maria Roseneusa dos Santos Oliveira. “Além de novas reuniões do grupo aqui na Capital e de criarmos um grupo no WhatsApp, estamos buscando a realização desse trabalho também nas cidades do interior”, informa.
Dentro dessa proposta, está sendo instituído para os servidores da ativa o “Programa de desaceleração dos servidores em processo de aposentaria da Agepen/MS”, objetivando levar o servidor a refletir sobre os aspectos positivos e negativos dessa fase, sobre a importância de se preparar para o futuro, esclarecer questões legais, conhecer seus direitos e decidir sobre o momento adequado para a aposentadoria.
O programa tem como eixo de discussão os aspectos psicossociais, o envelhecimento saudável, o lazer, o desenvolvimento de nova atividade ou ocupação e o planejamento financeiro, pessoal e familiar.