Campo Grande (MS) – Detentos do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira (CPAIG) estão trabalhando na reforma da Escola Estadual Teotônio Vilela, no bairro Universitário II. A ação faz parte do projeto “Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade” e envolverá a reestruturação de mais de 3 mil metros quadrados de área construída.
A obra contemplará toda a rede hidráulica e elétrica do prédio, além de calçamento, revestimento com cerâmica, colocação de pias, forro de PVC e serviços de serralheria e pintura, em todas as 22 salas de aulas, laboratórios, biblioteca, bloco administrativo e quadra de esportes. A previsão é de que os trabalhos sejam concluídos até março do ano que vem.
Idealizado pelo juiz Albino Coimbra Neto, o Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade é desenvolvido em parceria entre o Governo do Estado e o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, por meio a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Secretaria de Estado de Educação (SED) e a 2ª Vara de Execução Penal da capital.
Esta é a 10ª escola reformada pelo projeto que, ao longo dos seus cinco anos de existência, já gerou aos cofres públicos economia de mais de R$ 7 milhões e beneficiou diretamente 8.834 alunos, levando melhorias a pelo menos 10% do total de escolas públicas da Rede Estadual de Campo Grande.
Inaugurada em 1985, a mais nova escola a ser reformada atende a cerca de 1.700 alunos matriculados no ensino fundamental, médio e médio integrado ao curso técnico profissionalizante, nos turnos matutino, vespertino e noturno. A estrutura atende toda a região que compreende também aos bairros como Canguru, Los Angeles, Ramez Tebet, Nashiville e Jardim Macaúba.
De acordo com o diretor do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, Adiel Barbosa, além da reestruturação geral, as obras na Escola Teotônio Vilela também envolverão a construção de novos bancos para os alunos sentarem no pátio, cobertura no corredor de acesso e poda de árvores.
A reforma ocupa a mão de obra de 25 internos, que atuam como pedreiros, serventes, serralheiros, eletricistas, encanadores, pintores, jardineiros etc. Além de um salário mínimo mensal, pelo trabalho, recebem remição de um dia na pena a cada três de serviços prestados, como prevê a Lei de Execução Penal (LEP).
O reeducando Tiago Touro Tomicha, é um deles, há sete meses em regime semiaberto ele vê na oportunidade uma chance de escrever uma nova história de vida. Designado para trabalhar como pintor, no momento ele ajuda de tudo um pouco nas oito horas diárias dedicadas ao serviço. “Quero tocar minha vida para frente, com meu trabalho e esse é uma chance que estou tendo para mostrar o meu valor, o que eu posso fazer. Pretendo terminar minha pena e aperfeiçoar a cada dia mais no meu ofício de pintor”, afirmou.
Para o detento, poder participar do projeto é uma forma de quebrar um pouco do preconceito da sociedade. “Espero que as pessoas também possam nos ver com outros olhos. Estamos dando o nosso suor para contribuir para o ensino destas crianças, espero que elas tenham um ótimo futuro, e através da educação tenham um futuro longe do crime”, declarou.
Ao todo, serão investidos cerca de R$ 500 mil na obra, dos quais R$ 410 mil são custeados pelos próprios presos por meio do desconto de 10% dos salários de todos os detentos que conquistaram uma vaga de emprego via convênios com o poder público em Campo Grande. O restante é investido pela Secretaria de Educação para pagamento do salário da mão de obra prisional e transporte dos trabalhadores.
Visita
As obras na 10ª escola receberam a visita da vice-governadora Rose Modesto na tarde desta terça-feira (11.12), que foi acompanhada pelo diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves e pelos juízes Mário José Esbalqueiro Jr. e Albino Coimbra Neto.
Durante a visita, a vice-governadora destacou o fator social do projeto que une a educação pública à questão da ressocialização, já que possibilita profissionalização e ocupação produtiva à população carcerária.
O diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, também defendeu o impacto positivo da iniciativa para a reinserção social de apenados. “Além de melhorar a qualidade estrutural para o ensino dos alunos, é uma oportunidade de profissionalização e ocupação produtiva para quem está em situação de prisão”, frisou o dirigente.
Segundo o juiz Albino Coimbra, existe a perspectiva de o projeto servir de referência para todo o país. De acordo com o magistrado, membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pretendem vir ao Mato Grosso do Sul para conhecerem de perto o modelo e reproduzi-lo em outros estados.
Texto: Keila Oliveira
Fotos: Divulgação